Monday, May 26, 2008


TOPOFONE


Mais uma incursão pelo rico vocabulário português, depois da brilhante abaladiça. Topofone: sm (topo+fone2) Instrumento destinado a determinar a direção de onde provém um som, em particular durante nevoeiro sobre o mar. Var: topofono. É assim que vem descrito no Dicionário de Língua Portuguesa HostDime. Em 31 de Agosto de 1880, o Professor A. M. Mayer apresentou o topofone como sendo um instrumento para determinar a direcção e posição de uma fonte sonora. Não valerá a pena descrever o instrumento pois a imagem é suficientemente esclarecedora, julgo eu. Este instrumento foi utilizado inicialmente na navegação marítima, em situações de nevoeiro, para localizar mais fielmente a posição dos sinais sonoros recebidos na embarcação provenientes de outras embarcações, ou de terra. A real localização do som pode ser determinada com este instrumento fazendo duas observações nos extremos de uma linha de comprimento conhecido. Muito bem achado, e com imensas aplicações que dele advieram.

"O cientista não traz nada de novo. Só inventa o que tem utilidade. O artista descobre o que é inútil. Traz o novo"
Karl Kraus




ABALADIÇA





Estávamos a terminar o jantar e a última garrafa de vinho também estava a acabar. Então o A. diz: vamos pedir a abaladiça. Pouca gente conhecia o termo, que é utilizado no alentejo e que significará a última bebida, talvez por ser a última antes de abalar. O termo é muito engraçado e tem uma sonoridade tipicamente alentejana. Estamos sempre a prender...


"A solidão é agora tão difundida que se tornou paradoxalmente uma experiência compartilhada"
Alvin Tofller

Monday, May 19, 2008



ESTÁDIO DAS ANTAS





Nas origens da cidade do Porto, que postei recentemente é apresentado um mapa pré e proto-histórico do Porto, fazendo referência a várias antas, infelizmente já desaparecidas, na cidade do Porto, engolidas pela urbe, cujo topónimo foi origem do nome do Estádio das Antas, também já desaparecido, embora por razões diversas e em nome do progresso, mas agora de antas, só ficou mesmo o nome.
Alguns números:
  • 1933 - Ano da Assembleia Geral em que surgiu a decisão de construção de um novo estádio para substituir o já pequeno Campo da Constituição.
  • 28 de Maio de 1952 - Inauguração do estádio.
  • 1962 - Inauguração da iluminação artificial.
  • 1976 - Aumento da lotação do estádio de 44.000 para 65.000 lugares.
  • 1986 - Rebaixamento do campo.
  • 1987 - Colocação de cadeiras em todas as bancadas descendo a lotação para 55.000 lugares.
  • 24 de Janeiro de 2004 - Último jogo
  • Março de 2004 - Demolição do estádio.


"De que serve ressuscitar? Toda a gente continua a ver o morto"
Teixeira de Pascoaes

Tuesday, May 13, 2008


JOÃO RAMALHO

Escrito por mim em 1995, recupero este texto, polémico, sobre uma grande figura da História de Portugal e do Brasil


Estávamos no último quartel do séc.XV, em plena era das Descobertas!
Nascia em Vouzela João Belbode Maldonado, filho de João Velho Maldonado e de Catarina Afonso Belbode, que casou, na sua terra com Catarina Fernandes, órfã do granjeiro Fuão das Vacas. Era conhecido como Ramalho , numa alusão às barbas, bigodes e cabelo arrepiados ( naquele tempo, como agora, toda a gente tinha alcunha, e esta tornava-se o verdadeiro nome).
Por razão que a História não nos deixou, terá embarcado numa das caravelas que na altura demandavam o Novo Mundo ( nesse tempo pouca gente embarcava voluntariamente e quase todos os condenados o faziam, uns para servir nas naus e outros para serem abandonados nas novas terras da Coroa, como povoadores).
João Ramalho terá sido condenado por se dar bem e ter negócios com judeus, numa altura em que estes e os que com eles privavam começaram a ser perseguidos; terá por isso embarcado e sido mandado para longe onde não mais seria uma ameaça para a Fé.
A nau em que viajava terá naufragado, e chegado assim a terras de Vera-Cruz, numa data que os nossos historiadores situam entre 1510 e 1512 (?).
A nova existência de João Ramalho desenvolveu-se nos campos de Piratininga, para lá da serra de Paranapiacaba, onde vivia com a índia Potira (nome que na linguagem tupi-guarani quer dizer, flor ), filha do cacique Tibereçá ( o olho-da terra ), com quem casou segundo os costumes locais. Nasceram os primeiros caribocas ( filhos de português e de índia), e a prole foi crescendo de ano para ano.
Inteligente, trabalhador e empreendedor a sua popularidade e prestígio cresciam incessantemente junto das populações locais.
Só muitos anos depois chegam as primeiras caravelas portuguesas a S. Vicente...
Em 1530, a esquadra de Martim Afonso de Sousa ancorou na barra de Buritioca , perto de S. Vicente onde João Ramalho e sua família foram recebidos, tendo o capelão da esquadra baptizado seus filhos-cinco ou seis- e Potira, que recebeu o nome de Isabel. Martim Afonso de Sousa, nessa altura, nomeou João Ramalho como Guarda-Mor dos campos de Piratininga, tendo regressado à Europa em 1533; nos vinte anos seguintes São Vicente só seria visitada por piratas franceses e espanhóis.
Em 1549, Tomé de Sousa primeiro governador-geral do Brasil, chegou à Bahia na companhia de muitas famílias, 600 homens de armas, numerosos oficiais de diversas profissões, 400 degredados e seis jesuítas, incluindo o superior da missão, o padre Manuel da Nóbrega.
Em fevereiro de 1553, desembarcou em São Vicente e, dois meses depois, galgou a Serra, internando-se no planalto. Aí foi recebido por João Ramalho e, em 8 de Abril de 1553, a povoação foi elevada à categoria de vila, com o nome de Santo André da Borda do Campo, e o vouzelense, que já era Guarda-Mor, passou a ser o seu Alcaide-Mor. A partir desta data, chegaram até nós sob a forma de actas das reuniões da Cãmara da vila de Santo André, alguns dados históricos da vida de João Ramalho.
É assim que sabemos que, ao lançar a sua rúbrica, riscava uma ferradura deitada com a abertura voltada para a esquerda: era o "kaf", a sua afirmação de judeu.
Com a chegada dos jesuítas, João Ramalho mandou construir uma igreja na vila, onde não chegou a entrar por ter sido excomungado por pecado de mancebia ( era casado com Catarina Fernandes aos olhos da Igreja).
Este facto levou a um afastamento progressivo entre João e Isabel, convertida pelos jesuítas, tendo esta abandonado a vila para viver com seu pai, Tibereçá na nova vila de Piratininga (a três léguas de distância), onde tinha sido instalado um colégio de jesuítas.
Em 25 de Janeiro (dia da conversão de S. Paulo) de 1554, ao ser celebrada a fundação do novo colégio, era fundada Piratininga (embrião da cidade de São Paulo).
Santo André entrava assim em rápido declínio, pois muitos dos seus habitantes começaram a mudar-se para Piratininga, onde havia portas que se comunicavam com o Céu; além disso os padres de São Paulo já não iam a Santo André.
Em meados de 1560, Mem de Sá, terceiro governador-geral do Brasil, a pedido dos jesuítas de Piratininga, mandou uma ordem a João Ramalho para que abandonasse a sua vila e incorporasse a sua gente aos moradores de São Paulo. Essa medida já era esperada, e o que restava da povoação, apressou-se a mudar para a aldeia nascente de Piratininga (para onde tinha sido transferido o foral de vila do primeiro núcleo lusitano do planalto-Santo André da Borda do Campo), que só depois disso tomou incremento. Diz a história, que João Ramalho foi o último a partir...
A partir de 1560 a população de São Paulo, começou a ser atacada pelos índios, e, face ao perigo eminente, João Ramalho é nomeado Capitão-Mor de São Paulo, para defendê-lo. A Câmara e o povo aclamam-no, e apesar de velho e anteriormente injustiçado, ele aceita.
Em 10 de Julho de 1561, dá-se o ataque de um exército de índios de várias nações, que os piratininganos sob as ordens de João Ramalho e Tibereçá conseguem heroicamente vencer. Este último e Vitorino, filho mais velho de João Ramalho, acabam por falecer na peleja.
O seu nome voltou a ser aclamado pela povoação nascente nos campos de Piratininga, tendo sido eleito vereador da Câmara nas eleições seguintes, cargo que no entanto recusa dizendo-se velho e cansado, e passou a viver afastado da vila.
Amargurado com a lembrança das injustas perseguições a que tinha sido sujeito, e a memória dos entes queridos que já haviam partido João Ramalho sentia-se um sobrevivente no mundo novo que já não era o seu.
Assim em 1580, resolve voltar a São Paulo para oficializar o seu testamento- "Aos três dias do mês de Maio de1580 anos da era de Nosso Senhor Jesus Cristo, perante mim, tabelião, Lourenço Vaz do 1º Ofício de Notas, na presença de Pedro Dias, Juiz Ordinário e de quatro testemunhas, diz João Ramalho, natural de Vouzela, comarca de Viseu, Província da Beira, Portugal, filho de João Velho Maldonado e de Catarina Afonso Belbode, casado na terra com Catarina das Vacas, que já se encontra por estas terras há noventa anos..."
Nos primeiros anos deste século, travaram-se no Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo e na imprensa daquela cidade brasileira, vivos debates sobre a figura do vouzelense.
A darmos crédito ao seu testamento feito em cartório, perante o escrivão,o juiz ordinário e testemunhas gradas, em livro rubricado por João Soares, ele chegara ao Brasil em 1490, isto é, antes de Cabral, antes mesmo de Colombo ter aportado a Guanaami, nas Antilhas.
Mas esse testamento (polémico e muito discutido), citado por Pedro Taques e Frei Gaspar da Madre de Deus, assim como por outras pessoas, desapareceu sem deixar maiores vestígios (existem apenas alguns fragmentos dispersos, não sendo reconhecido pela maioria dos historiadores).
No seguimento dos debates atrás referidos, o Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo nomeou uma comissão para estudar vário pontos menos claros da vida de João Ramalho. Devido à escassez dos documentos existentes poucas conclusões se puderam tirar; uma delas é que efectivamente ele utilizava o "kaf" hebraico na sua assinatura.
O efectivo desconhecimento histórico de alguns factos da sua vida envolveram-nos em lenda que a pesquisa histórica se esforça ainda hoje por esclarecer...
Não se sabe com que idade (mais de cem anos?), ou em que ano morreu João Ramalho (não sem antes se ter confessado e ter sido absolvido), mas sabe-se que foi um dos primeiros povoadores europeus do Novo Mundo e que a sua colaboração foi inestimável como elemento de ligação entre o colonizador português e os índios do Brasil , aplainando as arestas de um convívio nem sempre pacífico.
Fica para a história como o grande povoador dos campos de Piratininga, que daria origem em 1554 à fundação da cidade de São Paulo.
Como escreveu Tomé de Sousa, primeiro governador-geral do Brasil,ao Rei de Portugal, em 1553: "...Johão Ramalho, natural do termo de Coimbra, que Martim Afonso já achou nesta terra, quando cá veyo. Tem tantos filhos, netos, bisnetos e descendentes que ho não ouso dizer a V.A... Não tem cãs na cabeça nem no rosto e anda nove léguas a pé antes do jantar"...


"Por mares nunca de antes navegados..."

Camões

Monday, May 12, 2008


AS ORIGENS DA CIDADE DO PORTO


De Edições Pátria - Gaia de MCMXXXII, tenho a felicidade de ter acesso a "As origens da cidade do Porto" por Mendes Corrêa, Prof. da Universidade do Porto. Deixo uma Carta do Porto pré e proto-histórico (do Autor) e algumas palavras do mesmo para aguçar o apetite para futuras incursões neste tema. "A arqueologia e a toponímia antos respeitantes ao Porto e seus arredores. eles mostram a remotíssima antiguidade da ocupação humana nesta área a N. do Douro." Da análise cuidada deste mapa poderemos tirar várias ideias da antiguidade desta região e tentar, num exercício de raciocínio aplicado localizar os topónimos aí referidos com o Porto da actualidade. O mais fácil de localizar (agora também já não) é o porquê do nome do antigo Estádio das Antas, pois o que não falta naquela localização são antas, mamoas e arcas, como podemos observar. O que terá o dragão a ver com isto...


"As pessoas não serão capazes de olhar para a posteridade, se não tiverem em consideração a experiência dos seus antepassados"

Edmund Burke

Sunday, May 04, 2008


MANUAL DE CIVILIDADE E ETIQUETA


Inicio hoje algumas notas sobre civilidade e etiqueta retiradas do respectivo manual (sétima edição), editado em 1903, ou seja há 105 anos editado por Arnaldo Bordalo, em Lisboa e fazendo parte da colecção "Enciclopédia de Livros Úteis", da qual é o quarto volume.


"Todos os actos da nossa vida publica teem de obedecer a praxes estabelecidas, a um geral convencionalismo, sob pena de sermos considerados descortezes e ignorantes. Saber viver na sociedade quer dizer que nos sabemos comportar com a delicadeza e dentro das formalidades que o respeito pelos outros e por nós próprios nos impõe. A polidez no trato, a cerimonia que nos cumpre observar em grande parte das nossas acções, acorrecção do nosso comportamento, a linha genérica dos nossos habitos, tudo isso que à primeira vista poderá parecer incommodo e inutil é, sem duvida, d'onde deriva o grau maior ou menor da civilização das nações. Se não houvesse um codigo de civilidade e etiqueta, se cada um procedesse sem attenção para com as demais pessoas, a moral social não existiria... Assim a civilidade é a moral. A'parte os caprichos das modas, que são enfim, os toques do gôsto nas exterioridades da nossa vida, os preceitos do saber viver desenvolvem os mais puros sentimentos da nossa alma, tornando-nos aptos para merecer a veneração de todos e permitindo-nos que desempenhemos no mundo o nosso verdadeiro papel."


Cremos haver muita actualidade nestas palavras, na civilidade ou na falta dela e nas confusões da liberdade nos dias de hoje. Quando se fala tanto em liberdade e civismo, convém não esquecermos também a civilidade!

"Ser livre significa em primeiro lugar ser responsável para consigo mesmo"

Mircea Eliade