Sunday, November 23, 2008


ARQUEOLAFÕES V



Voltando à arqueologia da região de Lafões e mais uma vez com a ajuda Aristides de Amorim Girão, faço agora uma breve referência à pedra das Ferraduras Pintadas a cerca de um Km da povoação de Benfeitas, freguesia de Destriz, concelho de Oliveira de Frades. Sobre ela escreve Amorim Girão: "Trata-se dum conjunto de sinais gravados numa laje granítica em ligação evidente com a rocha viva, e que forma uma superfície quási plana e suavemente inclinada, medindo 6,50 m de comprimento por 3,50 m de largura. Estes sinais, representados no esboço ao lado, apresentam-se repartidos em secções segundo as linhas de fractura da rocha e ainda por sulcos que parecem artificialmente feitos. É certo que o conjunto se encontra em grande parte já apagado pelo desgaste natural da rocha; aproveitando, entretanto, a ocasião em que o sol está mais baixo sobre o horizonte, nitidamente se podem distinguir estes sinais, e até mesmo aqueles que, por estarem mais desgastados, dificilmente se distinguiriam em outras condições. A gente da localidade diz que estão ali gravados (pintadas é o termo, embora não haja indicio visivel de cores em tal monumento) os pés de todos os animais que havia em outro tempo, sendo também da tradição que era naquele rochedo que as Mouras traziam o ouro ao sol."


Qual será realmente o seu significado?




"As coisas que os homens conhecem, de nenhuma maneira podem ser comparadas, numericamente, com as coisas que se desconhecem"


Chuang Tzu

Wednesday, November 12, 2008


CASTROS III- Cabeço do Couço



Povoado localizado num cabeço bastante íngreme, sobranceiro ao rio Alcofra que corre a sul. A sua origem remonta ao Bronze Final, perdurando a sua ocupação durante a idade do ferro. As escavações arqueológicas realizadas no seu interior, numa pequena plataforma localizada no lado norte, puseram a descoberto os alicerces de três casas de planta circular em pedra, e a face interna da muralha que circundava o cabeço. Do seu espólio constam entre outras cerâmicas de uso doméstico, cossoiros, mós, contas de colar e fragmentos de objectos metálicos de bronze e ferro. Os trabalhos de prospeção e escavação decorreram en 1997 e 1998 e Paisicaico esteve lá, conforme a foto ao lado documenta. A abertura do estradão que sobe o cabeço, atravessou a muralha defensiva e pôs a descoberto algum espólio que na altura era facilmente identificável e recolectável por quem ali passasse. Vale a pena a visita ao pouco ou muito pouco que ainda está explorado e a subida até ao cimo do cabeço, onde existem umas extensas lajes de pedra que segundo alguns testemunhos locais teriam a ver com os mouros, o que quer dizer que são antigos e que poderão estar relacionados com um lugar de culto dos habitantes do castro, conforme nós pessoalmente testemunhámos. A encosta sobre o vale do Alcofra é quase inexpugnável e só isso vale a visita. Apropósito fica na freguesia de Campia, concelho de Vouzela.


"A História é um conjunto de mentiras sobre as quais se chegou a um acordo"
Napoleão Bonaparte


Monday, November 03, 2008



ROMÃ





Algumas curiosidades curiosas sobre a romã: é o fruto da romãzeira (Punica granatum) e a sua principal característica distintiva é que o seu interior é subdividido por finas películas, que formam pequenas sementes possuidoras de uma polpa comestível, sendo provavelmente originária do próximo oriente e daí a importância que teve ao longo dos milénios para várias civilizações e religiões. A romã é referida nos textos bíblicos onde é associada às paixões e à fecundidade. Os gregos consideravam-na como símbolo do amor e da fecundidade tendo a romãzeira sido consagrada à deusa Afrodite, pois os gregos acreditavam nos seus poderes afrodisíacos. Para os judeus, a romã é um símbolo religioso com profundo significado no ritual do ano novo quando sempre acreditam que o ano que chega sempre será melhor do que aquele que vai embora. Ela estava também presente nos jardins do Rei Salomão e os romanos utilizavam-na nas suas cerimónias e nos seus cultos como símbolo de ordem, riqueza e fecundidade. Actualmente descobrem-se novas propriedades terapêuticas da romã que foram investigadas no Centro Oncológico da Universidade da Califórnia, sendo as suas principais acções anticancerígena e antioxidante. A romã diminui a multiplicação de células do cancro da próstata e conduz à sua morte. A descoberta foi recentemente publicada na revista científica “Clinical Cancer Research”, e indica que o sumo deste fruto pode ter efeitos terapêuticos memo após uma intervenção cirúrgica. Têm sido também referidas as suas acções no combate ao colesterol e ao envelhecimento e até mesmo prevenir a doença de Alzheimer. Mas o efeito afrodisíaco continua a ser um dos mais procurados na româ e actualmente está comprovado o seu mecanismo de acção ao aumentar a produção de óxido nítrico, contribuindo assim para a vasodilatação do pênis.
O sumo de romã tem demonstrado melhorar a disfunção eréctil em homens e nas mulheres, parece aumentar o desejo sexual. Facto curioso é que ainda hoje, em Israel podemos encontrar o vinho feito de romãs que constitui uma bebida revigorante também neste caso considerado como afrodisíaco por aqueles que o bebem.

"Sexo é a coisa mais divertida que eu já fiz sem que risse"
Woody Allen

Friday, October 31, 2008


LICOR DE MERDA


Muitos já terão ouvido falar ou mesmo provado o Licor de Merda, licor de leite fabricado em Cantanhede, mas poucos saberão a origem do seu singular nome. Pois, recorrendo ao seu sítio na internet, podemos verificar: "Em 1974 nascia o Licor de Merda. Portugal passava por um período conturbado marcado pela luta entre a esquerda e a direita. Neste contexto, o Licor de Merda foi criado para "homenagear" algumas autoridades que então governavam Portugal. Marca registada desde Abril de 2004." No mesmo site e em Curiosidades "* CONTRA-RÓTULO DA PRIMEIRA GARRAFA NO LONGÍNQUO ANO DE 1974 *O Licor de Merda é um produto de alta qualidade, cuja fórmula pertenceu no final do século XX ao Frade maluquinho "BASKU GONSALBES".É extraído a partir de diversas merdas de confiança, sujeito portanto a criar depósito com a idade.Recomenda-se que seja servido com o cuidado indespensável para não turvar." Interessante, não é?...
"Que pena beber água não ser um pecado! Que bem saberia então!"
Giacomo Leopardi

Thursday, October 30, 2008


PAISICNICO ?


Interessante, apesar de discordar, é a interpretação para a inscrição rupestre das Corgas Roçadas, no lugar de As Torres em Carvalhal de Vermilhas (Vouzela), dada no site referido abaixo. E não concordo pois simplesmente não consegui encontrar no local (que conheço razoavelmente bem) tantas letras como aqui vêm referidas e que levaram à respectiva interpretação. De qualquer forma aqui fica a curiosidade, traduzida do castelhano:


"Paisicaico também poderia ser Paisicnico. Segundo o autor seria um texto de carácter jurídico e não votivo, que relata que Anión, filho de Vello, toma posse de um campoe Paisicaico coloca o título ou inscrição de propriedade"


Para quem quiser ver o original vá ao respectivo site.


"A vida é a infância da imortalidade"

Johann Goethe


Wednesday, October 15, 2008



CASTROS II






Numa nova incursão pelos castros do Norte de Portugal e da Galiza, aconselho hoje uma visita ao Castro de Santa Tegra (o nome é galego; em português seria Santa Tecla). Situa-se na Guarda (em castelhano, La Guardia), na parte mais elevada de um morro, num local previlegiado dominando a foz do rio Minho e a fronteira natural com Portugal, como se pode ver na imagem junta. O acesso ao local é muito fácil, por estrada alcatroada e no cimo do monte existe um pequeno museu onde podemos admirar alguns achados arqueológicos do castro (das épocas do Paleolítico, Neolítico, Idade do Bronze, Cultura Castreja e Galaico Romana, sendo de salientar o remate de dois torques em ouro entre várias outras peças) e adquirir iconografia sobre o assunto.

"As paisagens insignificantes existem para os grandes paisagistas; as paisagens raras e notáveis são para os pequenos"
Friedrich Nietzsche

Monday, October 06, 2008




BARÃO DE SÃO GERALDO



A curiosidade sobre este título é que encontramos dois barões de São Geraldo, um de cada lado do Atlântico. Quanto ao título português, foi concedido pelo rei D. Carlos I, em 17-08-1899 a José Geraldo Rodrigues, nascido em Quintela, freguesia de Ventosa, concelho de Vouzela, em 07-01-1842. Foi um homem trabalhador, filho de pais pobres mas que pelo seu engenho e labor conseguiu granjear fortuna, trabalhando primeiro no Porto e depois no Brasil, durante mais de 30 anos. Ao regressar a Portugal fez sentir na sua terra natal a sua acção filantrópica. Faleceu na sua casa de Ventosa em 14-07-1907. Curiosamente, na Wikipédia encontramos uma referência a um barão de São Geraldo no Brasil, título concedido por D. Pedro II a Joaquim José Álvares dos Santos Silva. Não consegui mais nenhuma informação sobre este título brasileiro, ou se poderá haver alguma relação entre os dois até porque José Geraldo Rodrigues viveu largos anos no Brasil...


"A estirpe não transforma os indivíduos em nobres, mas os indivíduos dão nobreza à estirpe"
Dante Alighieri



Sunday, October 05, 2008


CASTROS I


Há tempos atrás falei de uma excelente publicação, infelizmente muito difícil de encontrar, denominada "Guia dos castros da Galiza e Noroeste de Portugal". É curioso como nós desconhecemos, por vezes aquilo que está tão perto de nós, como acontece por exemplo com o Castro de Monte Mozinho. Este castro situa-se no concelho de Penafiel e fica não muito longe daquela cidade que tem ligação ao Porto por auto-esstrada; significa isto que a cerca de meia-hora do Porto encontra-se um original castro, como a figura documenta, bem conservado e sinalizado, que merece uma visita por aqueles que se interessam pela proto-história de Portugal. Além disso e ao contrário do que acontece em outros locais históricos existe uma ampla área de estacionamento, facilitando a visita aos forasteiros. Vale a pena visitar o Castro de Monte Mozinho ou Cidade Morta de Penafiel...

"Para suportar a sua própria história, cada um acrescenta-lhe um pouco de lenda"
Marcel Jouhandeau

Monday, September 29, 2008



OUVIDO ÚNICO





Quando falamos de ouvido único, geralmente referimo-nos a qualquer condição patológica em que um dos ouvidos deixou de funcionar, com os inconvenientes daí resultantes como a falta de esteriofonia e de capacidade de localização dos sons. Mas aqui queria fazer referência ao único ser vivo conhecido que tem apenas um ouvido, que se localiza no torax, o que também é único. Localiza-se mais propriamente na linha média ventral do metatorax, compreendendo uma câmara auditiva, dois tímpanos e quatro órgãos sensoriais; a sua sensibilidade auditiva ultrapassa frequências superiores a 20.000 Hz ou seja uma audição ultrasónica. Este ouvido está sintonizado para frequências de 25-60 KHz com limiares de 55-60 dB que é o alcance da ecolocação dos morcegos o que suporta a evidência que os louva-a-deus usam a sua audição como uma defesa contra os predadores.

"Alguns ouvem com as orelhas, outros com o estômago, outros com o bolso e alguns, simplesmente, não ouvem"
Khalil Gibran

Saturday, September 27, 2008


NÉMESIS II




Não era da némesis copépode que eu estava a pensar, antes de olhar para o dicionário, mas da verdadeira Némesis, deusa grega da ética. Nêmesis representa a força encarregada de abater toda a desmesura (Hibrys), como o excesso de felicidade de um mortal, ou o orgulho. Essa é uma concepção fundamental do espírito helênico: "Tudo que se eleva acima da sua condição, tanto no bem quanto no mal, expõe-se a represálias dos deuses. Tende, com efeito, a subverter a ordem do mundo, a pôr em perigo o equilibrio universal e, por isso, tem de ser castigado, se se pretende que o universo se mantenha como é". Nêmesis é também chamada "a inevitável". Actualmente, o termo némesis é usado para descrever o pior inimigo de uma pessoa, normalmente alguém ou algo que é exatamente o oposto de si mas que é, também, de algum modo muito semelhante a si. Por exemplo, o Professor Moriarty é frequentemente descrito como a némesis de Sherlock Holmes. É algo como o seu arqui-inimigo, algo que o anula, mas nutre-lhe um grande respeito e admiração. Considerada também por alguns como deusa da vingança ou como a personificação da indignação moral. Como exemplo da acção de Némesis, temos a história de Narciso, que era o belo filho do rio Cephissus e da ninfa Liriope e era tal a sua beleza que as mulheres olhavam uma vez para ele e logo se apaixonavam; o vão Narciso só tinha olhos para si próprio e rejeitava todos os admiradores. Némesis condenou então Narciso a passar o resto da sua vida admirando o seu reflexo nas águas de uma piscina e eventualmente Narciso morreu e foi transformado na flor que tem o seu nome. Também chamada Andrasteia ou Rhamnusia, devido ao seu santuário em Rhamnus na Ática, onde era a defensora das relíquias e memórias dos mortos, do insulto e da injúria; na mitologia grega é o espírito da retribuição divina e da fé vingativa, personificad por alguns por uma deusa sem remorsos.


"Não há maior vingança do que o esquecimento"
Baltasar Gracián y Morales


NÉMESIS







Némesis, s. f. Zool. Género de crustáceos copépodes da família dos Diquelestiídeos. É esta a definição no Grande Dicionário da Língua Portuguesa (1981). Mas o que são afinal os copépodes: são nem mais nem menos o grupo de organismos pluricelulares mais abundante no planeta, superando em número de indivíduos até os insectos; podem formar agregações com densidades superiores há 11000 indivíduos por litro; possuem de 1 a 5 mm de comprimento e um olho naupliano mediano típico na maioria (seja lá o que isto for).



"Mesmo quando eu estava em multidão, eu estava sempre sozinho"
Ernest Hemingway

Friday, September 19, 2008



RELÓGIO DE SOL





Conforme podemos ler na Wikipedia "Um relógio de sol mede a passagem do tempo pela observação da posição do Sol. Os tipos mais comuns, como os conhecidos "relógios de sol de jardim", são formados por uma superfície plana que serve como mostrador, onde estão marcadas linhas que indicam as horas, e por um pino ou placa, cuja sombra projetada sobre o mostrador funciona como um ponteiro de horas em um relógio comum. A medida que a posição do sol varia, a sombra desloca-se pela superfície do mostrador, passando sucessivamente pelas linhas que indicam as horas." O gnómon é a parte principal do Relógio de Sol que serve como ponteiro e possibilita a projecção da sombra e terá tido origem na antiga babilónia.


Apesar de ser um objecto actualmente pouco utilizado existem bastantes exemplares em Portugal, de que deixo aqui um exemplo ilustrativo e um site interessante sobre o assunto (http://www.cienciaviva.pt/rede/himalaya/home/guia5.pdf)

"O tempo é a imagem móvel da eternidade imóvel"
Platão

Sunday, September 14, 2008


PASSION FRUIT


Sempre me intrigou um pouco a origem deste nome, que também é dado ao maracujá. Passiflora edulis / P. edulis flavicarpa da família das Passifloraceae. Será pelo nome - passiflora / passion fruit? Não me parece. Então porque será? Vamos às propriedades medicinais: o sumo, mas especialmente as folhas contêm alcalóides que baixam a pressão arterial e têm ação sedativa e antiespasmódica. A flor é um sedativo e ajuda a induzir o sono; tem também sido utilizada no tratyamento da asma, insónia, problemas gastrointestinais, problemas da menopausa e até mesmo como alucinogénio. Os seus carotenóides e flavinóides podem ter também um efeito anticancerígeno. Com a chegada dos europeus à América do Sul o maracujá foi introduzido na Europa e as suas folhas foram utilizadas medicamente pelo seu efeito sedativo. O nome de Passio Fruit foi dado pelos missionários católicos da América do Sul, o que eu pessoalmente acho um pouco estranho porque esses missionários seriam portugueses ou espanhóis... A corona da flor seria vista como a coroa de espinhos, as cinco stamina como as cinco feridas de Cristo, as cinco pétalas e as cinco sépalas como os dez apóstolos (excluindo Judas e Pedro); e os três estigmas como os nós na cruz. Desenganem-se pois aqueles que quereriam achar uma outra dimensão da fruta da paixão; para esses deixo-lhes a letra de Passion dos Passion Fruit:

"P.A.S.S.I.O.N.Yes, we do the best we can P.A.S.S.I.O.N.That means passion, man El bacho, el bachoSo give me the bassQue pasa, que pasaWe will rock your placeGet busy, get busySo, give me the bassMe besa me besaLipstick on your face Venga con migoOla ola amigoUhu caballeroOla ola te quiero P.A.S.S.I.O.N.Yes, we do the best we can P.A.S.S.I.O.N.That means passion, man (2x) "


"Quando a paixão entra pela porta principal, a sensatez foge pela porta dos fundos"

Thomas Fuller

Saturday, September 06, 2008


ÍRIS


Íris, Zool. Género de insectos ortópteros, cursórios, da família dos mantídeos, representado na fauna de Portugal, vulgarmente conhecido pelo nome de louva-a-deus. O louva-a-deus, cientificamente chamado Paratenodera aridifolia, é um animal deveras curioso e desde logo no nome, que lhe advém de ser um predador paciente que geralmente passa horas à espera de uma vítima, unindo as patas dianteiras, como se estivesse a rezar. Vou enumerar algumas dessas curiosidades deveras curiosas:


Talvez por estas curiosidades, O Grande Dicionário da Língua Portuguesa, termine a sua referência ao louva-a-deus // Obs. Não se justifica o uso dete vocábulo no género feminino.


"Atiramos o passado ao abismo, mas não nos inclinamos para ver se está bem morto"


William Shakespeare



ARCO-ÍRIS


Íris, s. m. (do gr. iris, pelo lat. iris. O espectro solar // Meteoro atmosférico em forma de arco que oferece cores variadas, e que está sempre colocado no lado oposto do sol.; vulgarmente arco-da-velha. Fig. paz, alegria, promessa de felicidade. (Grande Dicionário da Língua Portuguesa, 1981)

"O nome desfigura as coisas"

Teixeira de Pascoaes

Tuesday, September 02, 2008


St. CROIX DE LA TRAPPE


Estava eu no meu descanso estival, na região de Lafões, e após um passeio junto ao rio Vouga e ao rio Teixeira, chego ao fim da tarde, de um dia de calor a Santa Cruz da Trapa, com o objectivo de refrescar o corpo depois de ter refrescado o espírito. Chegado ao largo principal, sento-me numa esplanada, admirando aquele fim de tarde. Havia qualquer coisa que não me estava a soar bem, qualquer coisa deslocada no espaço ou no tempo, que inicialmente não consegui perceber: algo estava fora do tempo...

Percebi então que todos à minha volta, os que estavam, os que vinham, os que iam, os que passavam, todos falavam uma língua estranha: só se ouvia falar francês. Era estranho, numa vila no coração de Portugal ouvir falar uma língua estranha e isso fez-me recuar no tempo 100 ou 150 anos, numa altura em que porventura também se ouviam outros sons, mas sons portugueses com sotaque brasileiro, como facilmente podemos empreender pelo grande conjunto de casas com "sotaque" que aquela vila apresenta. Voltei ao século XXI e entro no estabelecimento para saber o que poderia comer e diz-me a empregada, esta sim em português de Portugal: quer uma fatia de pizza americana acabada de sair do forno...

Friday, June 20, 2008



SURUCUCU





s.f. (do tupi). Zool. Serpente venenosíssima, a mais temível das serpentes brasileiras, que chega a atingir 2,50 m e se distingue das espécies congéneres por ter as escamas do corpo elevadas no meio (também se chama surucucutinga).
A partir do veneno da surucucu foi detectado um poderoso anticoagulante e também anti-tumoral e estão actualmente a decorrer pesquisas para a fabricação de um novo medicamento para combater o cancro.
Símbolo da medicina e da cura. Sinónimo de pavor para muitos. A maior cobra venenosa das Américas é também a grande protectora das plantações de cacau.
Excelente vídeo em:

"O caminho que desce e o caminho que sobe são os mesmos"
Heráclito

Monday, June 16, 2008


ALMINHAS


As Alminhas fazem parte do património artístico-religioso do nosso país. São pequenos altares de culto aos mortos onde se pára um momento para deixar uma oração, sendo um dos vestígios mais importantes da arte popular religiosa de Portugal. É frequente encontrar velas e lamparina acesas, deixadas pelas pessoas que passam no local, ou mesmo flores.

Não se sabe exactamente qual é a sua origem, mas crê-se que tenha a ver com a busca de ajuda divina nos caminhos e encruzilhadas, culto que já vem dos celtas, gregos e romanos, todos eles povos que prestaram culto a este tipo de divindades; mas as alminhas acrescentam mais qualquer coisa, pedem a oração dos que por elas passam, em favor das almas do Purgatório, sendo as primeiras representações artísticas do purgatório e que persistiram até aos nossos dias.
Geralmente, as alminhas são erguidas em encruzilhadas de caminhos (local de reunião de entes sobrenaturais...), quase sempre em caminhos rurais, em matas ou perto de cursos de água, embora também se possa encontrar alminhas junto às estradas nacionais. As alminhas também podem ser incrustadas em velhos muros ou na frontaria de casas e podem ser construídas nos mais diversos materiais.

O seu elemento principal é o painel de retábulo, pintado sobre madeira, estuque, tela, folha metálica ou azulejo, representando os condenados a arder nas labaredas do Purgatório, implorando a misericórdia divina e daqueles que por elas passam.



"Todas as almas são igualmente perfeitas"
Teixeira de Pascoaes

FASCENINAS


Fasceninas, s. f. pl. - composições poéticas ou dramáticas grosseiras e licenciosas, usadas em Fescénia e depois introduzidas em Roma. (Do lat. fescenina, "poesias fesceninas"). Retirado do Dicionário de Língua Portuguesa da Porto Editora.

A palavra fescenina teve origem na cidade de Fescénia, na Etrúria de onde provieram poesias impregnadas de licenciosidade ou obscenidade e passaram a ser utilizadas nas bodas romanas..

Alguns exemplos de poetas fesceninos são o português Manuel Maria Barbosa Du Bocage ou os brasileiro Gregório de Mattos e Guerra e Bernardo Guimarães.

A imagem junta é da autoria do arquiteto e artista plástico húngaro Géza Heller (1902-1992) que ilustra o recentemente publicado livro de poesia fescenina "AS MULHERES GOZAM PELO OUVIDO", de Sylvio Back, cineasta-poeta brasileiro.


"O fim da arte é quase divino: ressuscitar, se faz história; criar, se faz poesia"
Victor Hugo

Wednesday, June 11, 2008



D. BEBIANO I





Quem diria, um Bebiano Imperador do Brasil.




"Pedro de Alcântara João Carlos Leopoldo Salvador Bebiano Francisco Xavier de Paula Leocádio Miguel Gabriel Rafael Gonzaga, segundo imperador do Brasil, nasceu no Rio de Janeiro em 2 de dezembro de 1825. Assumiu o trono em 18 de julho de 1841, aos 15 anos de idade, sob a tutela de José Bonifácio e depois do Marquês de Itanhaém.
Em 1843, casou-se como a princesa napolitana Tereza Cristina Maria de Bourbon, com quem teve quatro filhos, dos quais sobreviveram as princesas Isabel e Leopoldina."

"A história é a caixa forte da memória"
Carlo Dossi

Saturday, June 07, 2008


SIMÃO RODRIGUES DE AZEVEDO

Recupero este texto de 1996, que redigi em memória de um IlustreVouzelense, talvez um pouco esquecido na actualidade e que introduziu em Portugal a Companhia de Jesus, que ainda hoje tem um papel importante na nossa sociedade fundamentalmente com o seu papel missionário e acima de tudo educacional, apesar das perseguições de que foram vítimas ao longo dos séculos desde a sua fundação em 1534.


Fundador da Companhia de Jesus e seu introdutor em Portugal, primeiro jesuíta português, introduziu a Ordem em Portugal com bases sólidas, lançando ao mesmo tempo a missão ultramarina.
Nasceu em Vouzela em 1510 e era filho de Gil Gonçalves de Azevedo Cabral e de D. Helena de Azevedo, nobre família.
Em 1527, com 17 anos de idade foi para Paris para a Universidade como bolseiro d'El-Rei, começando por se matricular no Colégio de Santa Bárbara, com seu irmão Sebastião, dedicando-se ao estudo de Humanidades ou Artes, sendo nessa altura Reitor da Universidade de Paris o português André de Gouveia. Matriculou-se na Faculdade de Artes em 1532 e licenciou-se em 1536, tendo-se dedicado então ao estudo da Filosofia e Teologia.
Em 1529, Inácio de Loyola chega ao Colégio de Santa Bárbara e começa a reunir um grupo de amigos que viria a estabelecer os alicerces da Companhia de Jesus. No mesmo quarto habitavam Inácio de Loyola, Francisco Xavier, Pedro Fabro e Simão Rodrigues, embrião da Companhia de Jesus a que se juntaram Diogo Laínez, Afonso Salméron e Nicolau Bobadilla.
Os sete deixaram Paris em 1537, dirigindo-se para Veneza, onde se lhes juntaram Cláudio de Jay, Pascácio Broet e João Codure, que vinham a perfazer o Grupo dos Dez.
A ida para Veneza, em 25/01/1537 prendia-se com a vontade de demandar a Terra Santa, pois era dali que partiam os barcos. Como se não conseguissem os seus intentos foram para Roma em 16/03/1537, onde se puseram às ordens do Papa para que os enviasse às missões que julgasse ser do maior serviço divino.
O encontro com o Papa deu-se no Castel Sant'Angelo, e este, agradado com os ideais de vida e missão do Grupo, satisfez favoravelmente os seus pedidos: a bênção de Paulo III, a licença para peregrinarem à Terra Santa e a autorização para receberem as ordens sagradas das mãos de qualquer bispo, mesmo fora dos tempos costumados, além de lhes dar 260 ducados para a viagem.
Voltam então para Veneza para empreender a viagem. Em 24 de Junho de 1537, recebeu Simão, juntamente com os seus amigos o sacerdócio, continuando a esperar a viagem, que não se realizou, pelo estado de guerra de Veneza com os Turcos.
No dia 15 de Abril de 1539, é fundada a Companhia de Jesus, em Roma.
Em 23 de Agosto de 1539 chega a Roma uma carta de D. João III, interessado e muito empenhado na presença e instalação da Companhia de Jesus em Portugal, o que levou Inácio de Loyola a referir-se-lhe como o "pai da Companhia de Jesus", pois foi de Lisboa que partiram Manuel da Nóbrega, Anchieta, João de Brito e tantos outros que haveriam de levar o Evangelho aos quatro cantos do mundo.
A 17/4/1540 chega Simão a Lisboa e logo se encontra com D. João III, Rei de Portugal, "o primeiro e maior benfeitor, não só da Província portuguesa, mas ainda de toda a Companhia". Pouco depois chega também Francisco Xavier.
Em Lisboa, os dois jesuítas, Simão e Francisco Xavier eram admirados e venerados por todos ao ponto de Simão Rodrigues escrever a Inácio de Loyola em Junho de 1540, que muitos "pensam que beijando nossas roupas beijam relíquias de Santos". O ideal da Índia mantinha-se vivo nos seus corações, lembrando-se que o fundamento que os fez sair de Roma com o mandato de Sua Santidade foi levar o nome do Senhor perante os reis e pregá-lO àqueles que O não conhecem.
A 3 de Abril de 1541 parte Xavier para a Índia na armada sob o comando do novo vice-rei D. Martim Afonso de Sousa. Simão ficou, mas sempre com projectos de missionação futura em paragens distantes.
Ao ficar em Portugal, a sua vocação missionária e de acção, levou a que o fundador da Província portuguesa desenvolvesse um trabalho fundamental e decisivo na implantação e consolidação da Companhia de Jesus no nosso país.
O primeiro colégio dos jesuítas em Portugal foi fundado por Simão Rodrigues em Lisboa, em Santo-Antão e desde o início gozou do maior prestígio.
Em Coimbra é também fundado um colégio junto à Universidade, Colégio do Nome de Jesus, com os bons ofícios do rei D. João III.
É por intermédio de Simão Rodrigues, aproveitando o acontecimento que viria a ser o casamento da infanta D. Maria com Filipe II de Espanha, que se dá a introdução da Companhia de Jesus em Espanha, com o seu amigo Pedro Fabro a que se juntaram muitos jesuítas jovens formados no colégio de Coimbra.
Em 1551 é fundado o colégio dos jesuítas em Évora, embrião da Universidade que é inaugurada em 1559.
Simão sempre alimentou o desejo de ajudar a difundir a Fé no Novo Mundo, mas como diz P. Baltazar Teles na sua "História da Companhia de Jesus nos reinos de Portugal", " conhecendo já o P. Simão que os gravíssimos negócios desta Província de Portugal não lhe davam lugar para cumular os seus grandes desejos de missão no Brasil, resolveu chamar a Coimbra o P. Nóbrega para mandá-lo ao Brasil em seu lugar".
Assim Simão ajudou a espalhar a Fé e a língua portuguesa em todo o mundo até então conhecido e encarregou-se pessoalmente da organização e implantação da Companhia em todo o país, não havendo "parte alguma do mundo, onde tanto prosperasse naqueles primeiros tempos", como escreve Inácio de Loyola em 1551.
Imcompreensões várias e invejas muitas pressionam Inácio de Loyola a libertar Simão do cargo de provincial de Portugal, e assim, no dia 1 de Janeiro de 1552, Simão Rodrigues é constituído provincial dos reinos de Aragão, de Valência e da Catalunha. Em relação à perda que a Província portuguesa sofreu, escreve Francisco de Borja em 1552: "parece que é tirar os fundamentos do edifício pra em breves dias destruir o edificado".
Em Junho de 1553 inicia um exílio de 20 anos em Roma, para onde foi desencantado pelo rumo que a Província portuguesa estava a tomar e mandado por Diogo Mirão, então provincial, a quem Inácio conferiu poder de decidir o futuro de Simão. Aí, Simão foi julgado pelos seus, com base em calúnias e invejas várias, agravadas com o actual desgoverno da Província portuguesa, tendo sido condenado a não mais voltar a Portugal. Pode-se compreender o desânimo e o desgosto sentidos pelo Mestre, mas a sua dedicação à Companhia fizeram-no acatar com "alegria" esta decisão.
Em 1554 consegue alcançar um dos seus sonhos que é visitar a Terra Santa em peregrinação. No seu longo exílio, passou Simão por Veneza, Pádua, Bassano e Génova onde foi superintendente do colégio da Companhia.
Em 1564, Diogo Laínez, então Geral da Companhia, providenciou a sua ida para Espanha, tendo passado por Córdova, Toledo e Múrcia.
Após 20 anos de ausência de Simão da Província portuguesa, esta continuava desgovernada e é assim que em 1573 o P. Everardo Mercuriano, novo Geral da Companhia, compreende o erro cometido anos antes e "ordenou" a Simão Rodrigues que regressasse a Portugal para pacificar a Província.
A Província voltou a prosperar e continuou a sua consolidação e Simão pôde ficar enfim em paz.
Em 1577 termina a sua notável obra "De origine e progressu Societatis Iesu".
A 15 de Julho de 1579, morre em Lisboa , na Casa de S. Roque, onde viveu os últimos anos da sua vida.


"A mim vos digo, me parecem uns Apóstolos"
D. JoãoIII

Monday, May 26, 2008


TOPOFONE


Mais uma incursão pelo rico vocabulário português, depois da brilhante abaladiça. Topofone: sm (topo+fone2) Instrumento destinado a determinar a direção de onde provém um som, em particular durante nevoeiro sobre o mar. Var: topofono. É assim que vem descrito no Dicionário de Língua Portuguesa HostDime. Em 31 de Agosto de 1880, o Professor A. M. Mayer apresentou o topofone como sendo um instrumento para determinar a direcção e posição de uma fonte sonora. Não valerá a pena descrever o instrumento pois a imagem é suficientemente esclarecedora, julgo eu. Este instrumento foi utilizado inicialmente na navegação marítima, em situações de nevoeiro, para localizar mais fielmente a posição dos sinais sonoros recebidos na embarcação provenientes de outras embarcações, ou de terra. A real localização do som pode ser determinada com este instrumento fazendo duas observações nos extremos de uma linha de comprimento conhecido. Muito bem achado, e com imensas aplicações que dele advieram.

"O cientista não traz nada de novo. Só inventa o que tem utilidade. O artista descobre o que é inútil. Traz o novo"
Karl Kraus




ABALADIÇA





Estávamos a terminar o jantar e a última garrafa de vinho também estava a acabar. Então o A. diz: vamos pedir a abaladiça. Pouca gente conhecia o termo, que é utilizado no alentejo e que significará a última bebida, talvez por ser a última antes de abalar. O termo é muito engraçado e tem uma sonoridade tipicamente alentejana. Estamos sempre a prender...


"A solidão é agora tão difundida que se tornou paradoxalmente uma experiência compartilhada"
Alvin Tofller

Monday, May 19, 2008



ESTÁDIO DAS ANTAS





Nas origens da cidade do Porto, que postei recentemente é apresentado um mapa pré e proto-histórico do Porto, fazendo referência a várias antas, infelizmente já desaparecidas, na cidade do Porto, engolidas pela urbe, cujo topónimo foi origem do nome do Estádio das Antas, também já desaparecido, embora por razões diversas e em nome do progresso, mas agora de antas, só ficou mesmo o nome.
Alguns números:
  • 1933 - Ano da Assembleia Geral em que surgiu a decisão de construção de um novo estádio para substituir o já pequeno Campo da Constituição.
  • 28 de Maio de 1952 - Inauguração do estádio.
  • 1962 - Inauguração da iluminação artificial.
  • 1976 - Aumento da lotação do estádio de 44.000 para 65.000 lugares.
  • 1986 - Rebaixamento do campo.
  • 1987 - Colocação de cadeiras em todas as bancadas descendo a lotação para 55.000 lugares.
  • 24 de Janeiro de 2004 - Último jogo
  • Março de 2004 - Demolição do estádio.


"De que serve ressuscitar? Toda a gente continua a ver o morto"
Teixeira de Pascoaes

Tuesday, May 13, 2008


JOÃO RAMALHO

Escrito por mim em 1995, recupero este texto, polémico, sobre uma grande figura da História de Portugal e do Brasil


Estávamos no último quartel do séc.XV, em plena era das Descobertas!
Nascia em Vouzela João Belbode Maldonado, filho de João Velho Maldonado e de Catarina Afonso Belbode, que casou, na sua terra com Catarina Fernandes, órfã do granjeiro Fuão das Vacas. Era conhecido como Ramalho , numa alusão às barbas, bigodes e cabelo arrepiados ( naquele tempo, como agora, toda a gente tinha alcunha, e esta tornava-se o verdadeiro nome).
Por razão que a História não nos deixou, terá embarcado numa das caravelas que na altura demandavam o Novo Mundo ( nesse tempo pouca gente embarcava voluntariamente e quase todos os condenados o faziam, uns para servir nas naus e outros para serem abandonados nas novas terras da Coroa, como povoadores).
João Ramalho terá sido condenado por se dar bem e ter negócios com judeus, numa altura em que estes e os que com eles privavam começaram a ser perseguidos; terá por isso embarcado e sido mandado para longe onde não mais seria uma ameaça para a Fé.
A nau em que viajava terá naufragado, e chegado assim a terras de Vera-Cruz, numa data que os nossos historiadores situam entre 1510 e 1512 (?).
A nova existência de João Ramalho desenvolveu-se nos campos de Piratininga, para lá da serra de Paranapiacaba, onde vivia com a índia Potira (nome que na linguagem tupi-guarani quer dizer, flor ), filha do cacique Tibereçá ( o olho-da terra ), com quem casou segundo os costumes locais. Nasceram os primeiros caribocas ( filhos de português e de índia), e a prole foi crescendo de ano para ano.
Inteligente, trabalhador e empreendedor a sua popularidade e prestígio cresciam incessantemente junto das populações locais.
Só muitos anos depois chegam as primeiras caravelas portuguesas a S. Vicente...
Em 1530, a esquadra de Martim Afonso de Sousa ancorou na barra de Buritioca , perto de S. Vicente onde João Ramalho e sua família foram recebidos, tendo o capelão da esquadra baptizado seus filhos-cinco ou seis- e Potira, que recebeu o nome de Isabel. Martim Afonso de Sousa, nessa altura, nomeou João Ramalho como Guarda-Mor dos campos de Piratininga, tendo regressado à Europa em 1533; nos vinte anos seguintes São Vicente só seria visitada por piratas franceses e espanhóis.
Em 1549, Tomé de Sousa primeiro governador-geral do Brasil, chegou à Bahia na companhia de muitas famílias, 600 homens de armas, numerosos oficiais de diversas profissões, 400 degredados e seis jesuítas, incluindo o superior da missão, o padre Manuel da Nóbrega.
Em fevereiro de 1553, desembarcou em São Vicente e, dois meses depois, galgou a Serra, internando-se no planalto. Aí foi recebido por João Ramalho e, em 8 de Abril de 1553, a povoação foi elevada à categoria de vila, com o nome de Santo André da Borda do Campo, e o vouzelense, que já era Guarda-Mor, passou a ser o seu Alcaide-Mor. A partir desta data, chegaram até nós sob a forma de actas das reuniões da Cãmara da vila de Santo André, alguns dados históricos da vida de João Ramalho.
É assim que sabemos que, ao lançar a sua rúbrica, riscava uma ferradura deitada com a abertura voltada para a esquerda: era o "kaf", a sua afirmação de judeu.
Com a chegada dos jesuítas, João Ramalho mandou construir uma igreja na vila, onde não chegou a entrar por ter sido excomungado por pecado de mancebia ( era casado com Catarina Fernandes aos olhos da Igreja).
Este facto levou a um afastamento progressivo entre João e Isabel, convertida pelos jesuítas, tendo esta abandonado a vila para viver com seu pai, Tibereçá na nova vila de Piratininga (a três léguas de distância), onde tinha sido instalado um colégio de jesuítas.
Em 25 de Janeiro (dia da conversão de S. Paulo) de 1554, ao ser celebrada a fundação do novo colégio, era fundada Piratininga (embrião da cidade de São Paulo).
Santo André entrava assim em rápido declínio, pois muitos dos seus habitantes começaram a mudar-se para Piratininga, onde havia portas que se comunicavam com o Céu; além disso os padres de São Paulo já não iam a Santo André.
Em meados de 1560, Mem de Sá, terceiro governador-geral do Brasil, a pedido dos jesuítas de Piratininga, mandou uma ordem a João Ramalho para que abandonasse a sua vila e incorporasse a sua gente aos moradores de São Paulo. Essa medida já era esperada, e o que restava da povoação, apressou-se a mudar para a aldeia nascente de Piratininga (para onde tinha sido transferido o foral de vila do primeiro núcleo lusitano do planalto-Santo André da Borda do Campo), que só depois disso tomou incremento. Diz a história, que João Ramalho foi o último a partir...
A partir de 1560 a população de São Paulo, começou a ser atacada pelos índios, e, face ao perigo eminente, João Ramalho é nomeado Capitão-Mor de São Paulo, para defendê-lo. A Câmara e o povo aclamam-no, e apesar de velho e anteriormente injustiçado, ele aceita.
Em 10 de Julho de 1561, dá-se o ataque de um exército de índios de várias nações, que os piratininganos sob as ordens de João Ramalho e Tibereçá conseguem heroicamente vencer. Este último e Vitorino, filho mais velho de João Ramalho, acabam por falecer na peleja.
O seu nome voltou a ser aclamado pela povoação nascente nos campos de Piratininga, tendo sido eleito vereador da Câmara nas eleições seguintes, cargo que no entanto recusa dizendo-se velho e cansado, e passou a viver afastado da vila.
Amargurado com a lembrança das injustas perseguições a que tinha sido sujeito, e a memória dos entes queridos que já haviam partido João Ramalho sentia-se um sobrevivente no mundo novo que já não era o seu.
Assim em 1580, resolve voltar a São Paulo para oficializar o seu testamento- "Aos três dias do mês de Maio de1580 anos da era de Nosso Senhor Jesus Cristo, perante mim, tabelião, Lourenço Vaz do 1º Ofício de Notas, na presença de Pedro Dias, Juiz Ordinário e de quatro testemunhas, diz João Ramalho, natural de Vouzela, comarca de Viseu, Província da Beira, Portugal, filho de João Velho Maldonado e de Catarina Afonso Belbode, casado na terra com Catarina das Vacas, que já se encontra por estas terras há noventa anos..."
Nos primeiros anos deste século, travaram-se no Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo e na imprensa daquela cidade brasileira, vivos debates sobre a figura do vouzelense.
A darmos crédito ao seu testamento feito em cartório, perante o escrivão,o juiz ordinário e testemunhas gradas, em livro rubricado por João Soares, ele chegara ao Brasil em 1490, isto é, antes de Cabral, antes mesmo de Colombo ter aportado a Guanaami, nas Antilhas.
Mas esse testamento (polémico e muito discutido), citado por Pedro Taques e Frei Gaspar da Madre de Deus, assim como por outras pessoas, desapareceu sem deixar maiores vestígios (existem apenas alguns fragmentos dispersos, não sendo reconhecido pela maioria dos historiadores).
No seguimento dos debates atrás referidos, o Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo nomeou uma comissão para estudar vário pontos menos claros da vida de João Ramalho. Devido à escassez dos documentos existentes poucas conclusões se puderam tirar; uma delas é que efectivamente ele utilizava o "kaf" hebraico na sua assinatura.
O efectivo desconhecimento histórico de alguns factos da sua vida envolveram-nos em lenda que a pesquisa histórica se esforça ainda hoje por esclarecer...
Não se sabe com que idade (mais de cem anos?), ou em que ano morreu João Ramalho (não sem antes se ter confessado e ter sido absolvido), mas sabe-se que foi um dos primeiros povoadores europeus do Novo Mundo e que a sua colaboração foi inestimável como elemento de ligação entre o colonizador português e os índios do Brasil , aplainando as arestas de um convívio nem sempre pacífico.
Fica para a história como o grande povoador dos campos de Piratininga, que daria origem em 1554 à fundação da cidade de São Paulo.
Como escreveu Tomé de Sousa, primeiro governador-geral do Brasil,ao Rei de Portugal, em 1553: "...Johão Ramalho, natural do termo de Coimbra, que Martim Afonso já achou nesta terra, quando cá veyo. Tem tantos filhos, netos, bisnetos e descendentes que ho não ouso dizer a V.A... Não tem cãs na cabeça nem no rosto e anda nove léguas a pé antes do jantar"...


"Por mares nunca de antes navegados..."

Camões

Monday, May 12, 2008


AS ORIGENS DA CIDADE DO PORTO


De Edições Pátria - Gaia de MCMXXXII, tenho a felicidade de ter acesso a "As origens da cidade do Porto" por Mendes Corrêa, Prof. da Universidade do Porto. Deixo uma Carta do Porto pré e proto-histórico (do Autor) e algumas palavras do mesmo para aguçar o apetite para futuras incursões neste tema. "A arqueologia e a toponímia antos respeitantes ao Porto e seus arredores. eles mostram a remotíssima antiguidade da ocupação humana nesta área a N. do Douro." Da análise cuidada deste mapa poderemos tirar várias ideias da antiguidade desta região e tentar, num exercício de raciocínio aplicado localizar os topónimos aí referidos com o Porto da actualidade. O mais fácil de localizar (agora também já não) é o porquê do nome do antigo Estádio das Antas, pois o que não falta naquela localização são antas, mamoas e arcas, como podemos observar. O que terá o dragão a ver com isto...


"As pessoas não serão capazes de olhar para a posteridade, se não tiverem em consideração a experiência dos seus antepassados"

Edmund Burke

Sunday, May 04, 2008


MANUAL DE CIVILIDADE E ETIQUETA


Inicio hoje algumas notas sobre civilidade e etiqueta retiradas do respectivo manual (sétima edição), editado em 1903, ou seja há 105 anos editado por Arnaldo Bordalo, em Lisboa e fazendo parte da colecção "Enciclopédia de Livros Úteis", da qual é o quarto volume.


"Todos os actos da nossa vida publica teem de obedecer a praxes estabelecidas, a um geral convencionalismo, sob pena de sermos considerados descortezes e ignorantes. Saber viver na sociedade quer dizer que nos sabemos comportar com a delicadeza e dentro das formalidades que o respeito pelos outros e por nós próprios nos impõe. A polidez no trato, a cerimonia que nos cumpre observar em grande parte das nossas acções, acorrecção do nosso comportamento, a linha genérica dos nossos habitos, tudo isso que à primeira vista poderá parecer incommodo e inutil é, sem duvida, d'onde deriva o grau maior ou menor da civilização das nações. Se não houvesse um codigo de civilidade e etiqueta, se cada um procedesse sem attenção para com as demais pessoas, a moral social não existiria... Assim a civilidade é a moral. A'parte os caprichos das modas, que são enfim, os toques do gôsto nas exterioridades da nossa vida, os preceitos do saber viver desenvolvem os mais puros sentimentos da nossa alma, tornando-nos aptos para merecer a veneração de todos e permitindo-nos que desempenhemos no mundo o nosso verdadeiro papel."


Cremos haver muita actualidade nestas palavras, na civilidade ou na falta dela e nas confusões da liberdade nos dias de hoje. Quando se fala tanto em liberdade e civismo, convém não esquecermos também a civilidade!

"Ser livre significa em primeiro lugar ser responsável para consigo mesmo"

Mircea Eliade

Thursday, April 10, 2008


GROUCHO MARX


Quando estive em Halifax, assisti a várias conferências, algumas bastante interessantes, particularmente uma delas em que eram muito bem apresentadas algumas ideias novas dentro daárea em debate. O conferencista terminou com uma frase e uma imagem que junto a este texto. Aquela frase de Groucho Marx ficou bem marcada e procurei mais algumas citações do mesmo actor e autor. Deixo algumas delas:


"Estes são os meus princípios. Se você não gosta deles, eu tenho outros"

"Eu nunca esqueço um rosto, mas, no seu caso, vou abrir uma excepção"

"O matrimónio é uma grande instituição. Naturalmente, se você gostar de viver numa instituição."

"Acho a televisão muito educativa. Toda as vezes que alguém liga o aparelho, vou para outra sala e leio um livro"

Groucho Marx

Tuesday, April 08, 2008


PREVENÇÃO RODOVIÁRIA BRASILEIRA


É sabido que o povo brasileiro é muito mais pr'á frente e desinibido que o português que é muitas vezes apelidado por aquele de macambúzio ou sorumbático. Vem isto a propósito de uma campanha da Prevenção Rodoviária Brasileira constituída por um conjunto admirável de outdoors. A sua congénere Portuguesa também está a evoluir, mas de uma forma um pouco melodramática. Fica um exemplo da criatividade brasileira.



"O género humano sempre meteu a ridículo os próprios dramas. Como é que os poderia ter suportado de outro modo? É por isso que tudo o que o género humano levou a sério releva do lado cómico das coisas"
Oscar Wilde




ESTRAMBÓLICO, adj.



Alteração popular de estrambótico. Estrambótico, adj. Estravagante; antiga composição poética de carácter amoroso.

Procurando a etimologia e o significado desta palavra curiosíssima, deparo no Dicionário de Língua Portuguesa on line HostDime com estrambólico adj fam V estrambótico que no mesmo dicionário é definido como adj. Pop. Extravagante, singular. / Afectado, ridículo. Ou seja, algo que não é comum, bizarro, podendo também ser considerado de mau gosto ou ridículo.

Junto uma imagem fantástica do anjo estrambótico, retirado de "Osiris y su mundo", uma verdadeira composição poética.

"Muitas vezes, o sublime e o ridículo encontram-se tão estreitamente relacionados, que é difícil classificá-los separadamente. Um passo além do sublime e cai-se no ridículo; um passo além do ridículo e chega-se ao sublime."
Thomas Paine


Friday, April 04, 2008


CONTORCIDO, adj.
(de contorcer). Que sofreu contorção; serpenteado, dobrado. // Que sofreu desvio ou modificação (em sentido próprio e figurado). Como sempre, fui ao Grande Dicionário da Língua Portuguesa de 1981 buscar estes significados, mas pode haver outros. Por exemplo na micro anatomia do rim aquilo que em Portugal se chama tubo contornado proximal (e distal) no Brasil tem o nome de túbulo contorcido proximal (e distal)


CALEIDOCICLOS CONTORCIDOS: O desenho de motivos entrelaçados usados para esses caleidociclos (desenhos periódicos), baseia-se numa rede de rectângulos. Para cobrir o caleidociclo contorcido, sobrepôs-se ao desenho periódico uma rede obliqua de triângulos, de forma que as arestas do topo e da base, assim como as da direita e da esquerda, condissessem uma as com as outras. Os retângulos no padrão original determinam o comprimento das arestas dos triângulos e os seus ângulos de inclinação. Quando girar este caleidociclo contorcido, verá as figuras cambalearem num ciclo infinito.


Tal como os caleidociclos, conhecemos ao longo da nossa vida pessoas oblíquas e contorcidas que cambaleiam pela vida num ciclo indefinido.


"A melhor resposta às calúnias é o silêncio"
Benjamim Jonson

Tuesday, April 01, 2008






HALIFAX II

Voltando a Halifax, estando eu a rever as fotografias tiradas na altura, deparei com estas duas, deliciosas na imagem, não sei se também no sabor do seu conteúdo pois confesso que não experimentei. Sendo Halifax famosa pela sua lagosta, que até no aeroporto havia à venda eu como bom português preferi a lagosta ao bife de tubarão. Mas que me deixou curioso, deixou!


"A primeira lei dos dietistas parece ser esta: se sabe bem, faz-te mal"
Isaac Asimov


Saturday, March 29, 2008


HALIFAX

No ano passado estive em Halifax, no Canadá. Não sabia onde ficava e verifiquei no mapa que era um dos locais daquele país mais próximo da Europa. No final dos dias de trabalho visitávamos aquela cidade marítima na companhia dos colegas espanhóis que nos acompanhavam na viagem. Numa dessas deambulações sou chamado pelo meu amigo Carlos C., espanhol, para admirar um monumento a um navegador português que se encontrava num pontão, junto ao mar e do qual junto uma fotografia tirada na altura. Tratava-se de um monumento a João Álvares Fernandes(1460-1525), navegador Português, nascido em Viana do Castelo. A curiosidade levou-me a conhecer um pouco da vida deste nosso antepassado, talvez mais conhecido no Canadá do que no seu próprio país. Os navegadorers Portugueses não viajaram só para o sul, mas também exploraram o Atlântico norte. Foram exemplos de exploradores destas terras, João Fernandes (que em 1497 baptizou o Labrador) e Gaspar Corte-Real em 1500. Estas viagens iniciais foram seguidas pela tentativa (infrutífera) de João Alvares Fagundes de fundar uma colónia nessa região, em Newfoundland. Álvares Fagundes recebeu do rei D. Manuel I em 1521 o exclusivo do comércio e povoamento das áreas por si descobertas e que correspondiam a parte do costa nordeste das Américas no que são hoje as províncias marítimas canadianas da Nova Escócia, Labrador e Terra Nova.


No ano de 2000 foi erigido este monumento para celebrar a chegada dos primeiros europeus à Nova Escócia no ano de 1520.



"A perseverança é a mãe da boa sorte"
Miguel de Cervantes


Sunday, March 23, 2008

PALEOETNOLOGIA DE LAFÕES



Da obra "Povos antigos de Portugal - Paleoetnologia do território hoje português" de João e Augusto Ferreira do Amaral (Quetzal editores 1997), retiramos algumas curiosidades relativas a topónimos da região de Lafões. A palavra topónimo deriva dos termos gregos τόπος (tópos), lugar, e ὄνομα (ónoma), nome, literalmente, o nome de um lugar. Vamos a alguns exemplos:


Alcofra al qufra de deserta - Árabe


Vouga , vauga ,vauca , uauga , ouákona de torto - Antigo Europeu
Adsamo (Adçamo) , ad de em ou muito e samo igual a verão - Celta


Cambarinho ,cambar , camari de quinta do camaro (cambarinus - antropónimo Celta)


Caramulo , eminência - Antigo Europeu


São Macário , magalio , magalus -Celta



Cambra , calambria , calambriga Celta (Briga igual a colina, cabeço, povoação, castelo no alto dum monte)


Sul ,teónimo Celta


Conclusão: os Celtas andaram por aqui!



"A História é um conjunto de mentiras sobre as quais se chegou a um acordo"
Napoleão Bonaparte

Thursday, March 20, 2008


CIRCUNCISFLÁUTICO III


Voltemos ao tema das amígdalas, que vá-se lá saber porquê, me tem interessado desde já alguns tempos... Falo, convém salientar das amígdalas cerebelosas cuja ablação levará ao recém denominado Síndrome do Circuncisfláutico. É curioso que uma parte tão importante do nosso cérebro seja desconhecida da maior parte das pessoas. a amígdala é um um centro do sistema límbico (cérebro primitivo) que é o ponto central do sistema endócrino e vegetativo. A amígdala é pois especializada nas questões emocionais funcionando como um arquivo da memória emocional; a vida sem amígdalas é uma existência sem significado pessoal e sem afecto: a paixão depende dela assim como a lágrima (excusiva do ser humano). Na arquitectura cerebral a amígdala é também como uma central programada para enviar chamadas de urgência: por exemplo ao mínimo sinal de medo a amígdala envia mensagens que setimulam a secreção de hormonas que desencadeiam a reacção de combate ou fuga e mobiliza os centro de movimento e o sistema cardiovascular; outros sinais vão para a secreção de adrenalina, com os efeitos conhecidos de todos. A amígdala é pois uma sentinela das nossas emoções. Podemos considerá-la como o centro da inteligência emocional tão em moda na actualidade. Estimulemos as nossa amígdalas e não nos deixemos tornar circuncisfláuticos, num país cada vez mais circuncisfláutico.
"A emoção é sempre nova, mas as palavras usam-se desde sempre: daí, a impossibilidade de exprimir a emoção"
Victor Hugo


Monday, March 10, 2008


CIRCUNCISFLAUTICO II


Estava eu a acabar de colocar no ar, ou na rede, ou onde quer que seja o primeiro circuncisfláutico, quando surgiu na minha frente a possível e qiçá provável origem do circuncisflautismo. E tem tudo a ver com as amígdalas, ou para ser mais correcto, com a falta delas. Desenganem-se aqueles, que serão concerteza alguns dos que lêem estas linhas (se é que alguém lê esta coisa), que isto é um problema para ser resolvido pela especialidade de Otorrinolaringologia; pois não é: e porquê? Como diria o outro, amígdalas há muitas: as palatinas, as linguais, as faríngeas e last but not the least as menos conhecidas amígdalas cerebelosas. No latim amygdala, do grego antigo αμυγδαλή, amygdalē, significa "amêndoa", "tendão" ou ainda corpo amigdalóide (do latim corpus amygdaloideum) refere-se a qualquer órgão anatómico em forma de amêndoa. Ora as amígdalas cerebelosas são grupos de células nervosas que, juntas, formam uma massa esferóide (amigdalóide) de com cerca de dois centímetros de diâmetro, situada no lobo temporal do cérebro de grande parte dos vertebrados, incluindo o homem. Esta região do cérebro faz parte do sistema límbico (cérebro primitivo) e é um importante centro regulador do comportamento sexual e da agressividade. É também importante para os conteúdos emocionais das nossas memórias. O mau funcionamento ou a remoção bilateral das amígdalas cerebelosas origina o Síndroma de Kluver-Bucy, caracterizado pela ausência de respostas agressivas, pela cortesia exagerada, pela oralidade e pela hipersexualidade; os indivíduos perdem a capacidade de avaliar uma situação de perigo, ficando impossibilitados de apresentar sinais de medo ao serem confrontados com estímulos adversos. Os indivíduos tornam-se mais dóceis, apresentam baixos níveis sanguíneos das hormonas do stress e apresentam menor probabilidade de desenvolverem úlceras e outras doenças induzidas pelo mesmo. Uma outra consequência é a regressão à fase oral, levando o indivíduo a colocar na boca tudo o que encontra, mesmo coisas completamente inadequadas ao consumo humano. Creio que esta Síndroma de Kluver-Bucy poderia também chamar-se Síndroma do Circuncisfláutico. Se não querem ficar circuncisfláuticos, não deixem que vos tirem as amígdalas... cerebelosas!


"São maus descobridores os que pensam que não existe terra porque só podem ver o mar"
Francis Bacon

Monday, March 03, 2008



CIRCUNCISFLÁUTICO





Desde logo é uma palavra fora do vulgar, que o Dicionário da Língua Portuguesa HostDime define como: adj Hum 1 Que fala rebuscadamente; amaneirado, pretensioso. 2 Misterioso. 3 Sorumbático. Ora parece-me que amaneirado, pretensioso, misterioso e sorumbático não são exactamente a mesma coisa e em alguns casos até parece não ligarem muito bem. Quererá então circuncisfláutico significar tudo isto junto; se assim for será dificil encontrar uma imagem para o caracterizar. Que tal esta?
"Não há beleza perfeita que não contenha algo de estranho nas suas proporções"
Francis Bacon

Saturday, March 01, 2008


ATLÂNTIDA


O mito da Atlântida é um dos que mais paixões tem gerado ao longo dos anos. A mitologia grega diz que Atlântida foi uma poderosa nação cujos moradores eram tão corruptos e gananciosos que Zeus decidiu destruí-la, através de uma enorme inundação. A primeira descrição da Atlântida foi feita na obra "Timeu e Crítias" de Platão (370 A.C.) e, desde então, inúmeras hipóteses têm sido especuladas sobre a sua localização, que segundo Platão ficava para lá das "Colunas de Hércules" (estreito de Gibraltar); alguns historiadores defendem que se tratava não só de uma cidade mas de um continente soterrado no meio do Atlântico, tendo sido proposto que as ilhas dos Açores são os pontos mais altos do que já foi o continente perdido da Atlântida.


Acabei agora de ler um livro muito interessante, chamado "A Terceira Atlântida - As raízes da tradição atlante nos Açores" de Fernanda Durão Ferreira, editado pela Zéfiro em Novembro de 2007. No prefácio da obra, baseada apenas em factos reais e por isso nada especulativa, Fonseca e Costa escreve: "No meio do Oceano Atlântico, numa ilha onde os touros são lidados tal como Platão conta quando descreve a Atlântida, a autora teve notícias do antigo império de Poseidon. Procurados desde sempre por arqueólogos, investigadores e aventureiros, os vestígios do continente perdido estão, afinal, presentes no dia-a-dia dos açorianos. Como uma plataforma no tempo, a Ilha Terceira manteve vivos durante muitos séculos alguns dos usos e costumes dos atlantes descritos pelo filósofo grego."


Não é a primeira vez que os Açores são apontados como os antigos cumes do continente desaparecido: quem não se lembra do Enigma da Atlântida (1955), aventura em banda desenhada de Blake e Mortimer de Edgar P. Jacobs que coloca a Atlântida na ilha de São Miguel. Qualquer dia volto a este tema.


"A parte que ignoramos é muito maior que tudo quanto sabemos"



Saturday, February 23, 2008


ARQUEOLAFÕES IV

Cova do Lobisomem


Só o nome dá curiosidade de conhecer e eu conheço muito bem pois não me canso de a visitar ano após ano e cada vez mais me intriga a sua localização no tempo passado, relacionado com a sua utilização. Quem a utilizou, e em que tempos(?), é pergunta que não temos visto respondida. Aristides de Amorim Girão nas suas Antiguidades Pré-Históricas de Lafões de 1921, faz uma excelente descrição desta gruta que passo a citar: "... na margem direita do rio (Couto), cerca de 200 m. a montante da torre medieval (de Cambra) ... encontramos uma caverna unteressantíssima, do período paleolítico, conhecida pelo nome deveras sugestivo de Cova do Lobisomem, onde si vera est fama, se recolhe 0 fantasma a descançar das longas fadigas que pasa percorrendo sete freguesias numa noite... A situação da caverna em relação ao rio e o facto de ficar na parte externa duma curva deste, onde a erosão é portanto mais activa, levam a crer que ela tenha sido em parte escavada pelas águas; mas é na sua máxima parte artificial. Consta de uma galeria ou corredor cuja entrada mede 2,40 m. de altura por 2 m. de largura; vai estreitando gradualmente para o interior, conduzindo a uma vasta câmara de forma oval irregular por um estrangulamento onde a custo cabe um homem de pé, pois não tem de largura mais de 0,40 m., tendo aliás 2,20 m. de comprimento. A câmara com cerca de 5 m. de comprido por2,50 m. de largo e outro tanto de alto, pode comportar dez homens bem à vontade. O comprimento total, incluíndo a galeria e câmara, regula por 18m. Toda a caverna foi aberta em saibro muito rijo, quási tão consistente como o granito, tendo na parte superior da câmara um pequeno buraco totalmente tapado por uma cobertura de calhaus rolados ligados por um cimento arenoso e argiloso muito duro e incontestavelmente produto da indústria humana; o fundo está completamente obstruído de areia e calhaus rolados." É a melhor e mais completa descrição da Cova do Lobisomem que eu conheço, apesar dos seus 87 anos de idade. Em Vouzela: A Terra, os Homens e a Alma (2001), faz-se uma referência curiosa à Memória Estadística de Lafões (1823) do Dr. Joaquim Baptista: "... Perto do rio do Espírito Santo em Cambra, há uma escavação muito longa em terreno de aspecto aurífero, e os mais sensatos crêem ser cava subterranea, que de alguma fortaleza guiava ao rio, a fim de se fornecerem de agoa os assistentes no Castello. Quanto a mim, pelo aspecto do terreno, direcção e extensão da Cava, suponho serem galerias de mina antiga do tempo dos Fenícios, Cartagineses ou Romanos". Na Carta Arqueológica do Concelho de Vouzela (1999), tal como em Vouzela:Património Arqueológico; sítios e rotas (2005) não é feita quaquer referência a este sítio. Porquê?... Fica a pergunta e já agora uma fotografia em que se pode ver a entrada, a galeria e ao fundo a câmara.

"Existem coisas que, para as saber, não basta tê-las aprendido"

Séneca

Tuesday, February 19, 2008


ESMERILHAR

Voltando ao nosso vocabulário, surge hoje uma palavra que ouvi no barbeiro, ao falar com um cliente a quem fazia a barba perguntando-lhe se quando fazia a barba em casa a pele se costumava esmerilhar. Fiquei a pensar nesta palavra e recorrendo mais uma vez ao Grande Dicionário da Língua Portuguesa, fiquei mais baralhado; dizia o seguinte: Esmerilhar, v. tr. O m.q. esmerilar. Esmerilar, v. tr. Polir ou despolir com esmeril.//Fig. Aperfeiçoar; pesquisar.//Esquadrinhar. Continuava intrigado e tentei procurar quaquer coisa na Internet e no dicionário inFormal alguém definia esmerilhar como "dançar tão agarradinho com se os dois fossem um só". Continuei a procurar e encontrei outra definição: dar os retoques finais. Mas estava ainda longe do esmerilhar do barbeiro. Entretanto ia correndo o google e a certa altura fez-se luz quando ao falar de ferramentas eléctricas para esmerilhar surgiram os significados de polir ou lixar. Ora aqui estava a resposta à minha pergunta, esmerilhar è uma forma polida de dizer lixar. Nas minhas pesquisas encontrei ainda o termo esmerilhar o bimbo que será um termo popular para a cópula tão invulgar como por exemplo esmurrar a cotovia, agasalhar o croquete, meter o invertebrado ou espocar a silibina (vá-se lá saber porquê!).

Atenção: a foto mostra uma máquina de esmerilhar e não de barbear; não tentem fazer a barba com aquilo...

Devo ter uma enorme quantidade de inteligência; às vezes até levo uma semana para a colocar em movimento.

Wednesday, February 06, 2008





CAMBALACHO

Esta também não encontrei no dicionário, mas aqui a razão é simples. O termo cambalacho foi popularizado pela novela brasileira com o mesmo nome, significando cambalacho golpada, logro ou como dizem os brasileiros trambique. Foi uma das novelas de maior sucesso no Brasil, onde passou em 1986. A novela foi também exibida em Portugal, pelo que o termo cambalacho atravessou assim o Atlântico.

Cambalacho em Portugal é nome de jogador e treinador de futebol. Uma recente sondagem aos adeptos do Boavista FC, considera Osvaldo Cambalacho um dos treinadores mais importantes que passaram pelo clube, talvez porque na década de 60, em que o clube andou por divisões secundárias, mais concretamente em 1966, foi ele o treinador da subida à primeira divisão num dramático jogo em Fafe, onde o Boavista empatou depois de ter vencido no Bessa por 2-1.

Osvaldo Cambalacho, como jogador foi campeão nacional no FC Porto.


"Quem quer mais do que lhe convém, perde o que quer e o que tem"
P. António Vieira



















Wednesday, January 30, 2008




PAREIDOLIA




Voltamos ao vocabulário, e esta não encontrei no dicionário, mas existe.

A pareidolia é um tipo de ilusão ou percepção equivocada, em que um estímulo vago ou obscuro é percebido como algo claro e distinto. Por exemplo, quando alguém vê o rosto de um homem na lua, animais ou caras na forma das nuvens ou uma cara de um velho num qualquer afloramento granítico.
Em circunstâncias normais, a pareidolia fornece uma explicação psicológica para várias ilusões baseadas na percepção sensorial. Por exemplo, explica vários avistamentos de ovnis ou a audição de mensagens sinistras em discos tocados ao contrário assim como numerosas aparições. Em circunstâncias clínicas, alguns psicólogos incentivam a pareidolia como um modo de entender o paciente. O mais famoso exemplo desse tipo de procedimento clínico é o teste de Rorschach.
Pareidolia é a tendência do cérebro humano em reconhecer padrões familiares, tal como rostos.
Obtido em "http://pt.wikipedia.org/wiki/Pareidolia"

Pareidolia deriva etimologicamente do grego eidolon (figura ou imagem) e com o prefixo par (junto a) e é um fenómeno psicológico consistente em que um estímulo vago e aleatório é percebido erroneamente como uma forma reconhecível.

"Frecuentemente el ser humano al observar un objeto, una nube o una mancha, tiende de manera inconsciente, a reconocer en estos objetos con formas caóticas, patrones asimilables a objetos conocidos. Este fenómeno es conocido como pareidolia". Bustamante, 2007. http://rupestreweb.info/hierofania.html
"Diversas obras rupestres y sitios arqueológicos a través del mundo, presentan características que permiten asociarlos con el fenómeno denominado pareidolia . En ellos, accidentes del paisaje, rocas, etc, presentan formas que semejan personas, animales, etc. Parece ser un fenómeno extensivo que podría constituirse tanto en una herramienta de análisis como de contraste de obras y entornos pertenecientes a diversas culturas a través del mundo". Bustamante. http://www.rupestreweb.info/pareidolia2.htm
A apofenia permite compreender o mecanismo psicológico mediante o qual determinadas formas sugerem ao observador relações que poderiam explicar em parte a origem de lendas e cosmogonias de diversas culturas.
Na foto encontra-se o caso mais famoso de pareidoloia: a cara na região de Cydonia Mensa em Marte fotografada pela sonda Viking 1 Orbiter.

"Justiça extrema é injustiça".
Cícero