Monday, December 31, 2007


ARQUEOLAFÕES II


Pedra Escrita


Pedra Escrita em Serrazes, é um monólito granítico com pouco mais de 2,5 metros de altura por 2 metros de largura.
Este monumento pré-histórico, segundo Aristides de Amorim Girão, o grande geógrafo arqueólogo lafonense, poderá ser datado do séc. X a.c.
Um dos mais importantes vestígios de arte rupestre da região de Lafões é composto de vários círculos concêntricos com covinha central e de rectângulos divididos em quadrículas, de difícil interpretação, mas que poderá na minha modesta opinião ter a ver com o culto do sol e da lua e com representações estilizadas do mundo superior e do mundo inferior tão importantes no imaginário e religiosidade dos povos dessa época.

A Pedra Escrita foi classificada como Imóvel de Interesse Público, pelo Decreto nº 35.532, de 15 de Março de 1946. Actualmente, encontra-se protegida simplesmente por um pequeno telheiro, exposta às intempéries e ao vandalismo. Uma placa interpretativa seria interessante!


"O homem foge da sua sombra anterior para a sua luz futura"

Teixeira de Pascoaes

Sunday, December 23, 2007



ARQUEOLAFÕES


Menires do concelho de Vouzela


Em Junho de 2002, após ter lido com todo o interesse um artigo sobre uma breve notícia dos menires de Alvarenga e da Serra da Freita, verifiquei que havia algumas coisas que gostaria de ver esclarecidas, e por isso escrevi, por duas vezes para o Centro de Estudos Pré-Históricos da Beira Alta, mas em nenhuma delas obtive qualquer resposta. Eis o teor da respectiva missiva e as fotografias, para os meus leitores se situarem e darem também a sua opinião.

"Antes de mais, os meus cumprimentos e as minhas felicitações pela existência dessa Associação cultural e científica, que concerteza vela pela investigação, preservação e divulgação do rico património arqueológico da nossa região.
Desde pequeno me interessei pela arqueologia e várias vezes percorri o concelho de Vouzela, primeiro a acompanhar o meu pai e, mais tarde com amigos, ou apenas com as "Antiguidades Pré-Históricas de Lafões" de Amorim Girão, que apesar de terem já 80 anos continuam a ser o mais completo e exaustivo estudo da pré e proto-história da nossa região.
Foi assim com imenso interesse que soube da existência da vossa Associação, esperançado que estou no desenvolvimento e expansão dos estudos pré-históricos não só do concelho de Vouzela (que conheço melhor), mas também de toda a região de Viseu. Por isso muito gostei de ver em "Estudos Pré-históricos" vol.I um interessante trabalho sobre a Casa da Orca, uma das antas do concelho de Vouzela que se encontra num local de excelente envolvência e cuja mamoa está razoavelmente conservada e englobada num conjunto de três mamoas a merecer cuidada investigação. Gostei também bastante do trabalho sobre a estela-menir da Caparrosa. Achei muito interessante todo o vol. III e o artigo sobre o Monumento 2 da Serra de Muna, no vol. VI.
Não gostei, e talvez seja eu que estou errado, de um artigo que vem no 2º volume das Actas das V Jornadas Arqueológicas da Associação dos Arqueólogos Portugueses da autoria de Fernando A. Silva e António M. Silva "Menires de Alvarenga e da Serra da Freita (Arouca, Aveiro)Beve notícia".
Aí se faz notícia, "inédita", da "descoberta de um conjunto de três menires na Serra da Freita e de um outro em Alvarenga, no concelho de Arouca,"que, "veio enriquecer de modo especial o património arqueológico de uma região".
Não quero duvidar da descoberta que foi feita, mas permito-me discordar quando é dito (e parece ser a principal conclusão do trabalho, pois destaca-se nas conclusões e merece duas fotografias) que "Os pretensos menires das Pedras Altas (Fataúnços) e Bicão dos Conqueiros (Ventosa), no concelho de Vouzela, Viseu, perpetuados na bibliografia da especialidade desde que Amorim Girão os assinalou em 1921, mais não são afinal que meros blocos naturais de morfologia mais ou menos sugestiva, não devendo portanto continuar a ser referidos como verdadeiros menires pré-históricos".
Eu não sou arqueólogo, mas como escreveu Amorim Girão, "não se alegue falta de conhecimentos técnicos nestes assuntos, em que uma boa vontade e uma observação rigorosa.." por vezes valem mais que muitos livros ou palavras... E desde há vários anos, que todos os anos vou até ao Bicão dos Conqueiros, e, dizer que não existe um aspecto antropomórfico, só quem nunca lá foi!
Também o Académico João Luís Cardoso, numa publicação da Academia Portuguesa de História datada de 1999 – “Vouzela- Estudos Históricos”, no capítulo “Monumentos megalíticos do concelho de Vouzela”, pág. 172-174, se refere de forma exautiva àqueles dois menires, que são também referenciados por V. Leisner em 1998 no seu livro “Die Megalithgraber der Iberischen Halbinsel”.
Gostava sinceramente de saber qual a vossa opinião ácerca destes dois monumentos pré-históricos da nossa região, e se acham correcta a forma como aqueles dois autores os apagam da lista de antiguidades pré-históricas do nossso país, sem, na minha modesta opinião, sustentarem minimamente essa tese.
Não quero de forma alguma ir contra os especialistas, mas apenas ser esclarecido.
Gostava finalmente, e peço desculpa pelo tempo que vos tomei, de saber como me posso juntar à vossa Associação, pois apesar de não ser um especialista, sou desde há muitos anos um apaixonado pela arqueologia.
grato pela vossa atenção, despeço-me com os meus melhores cumprimentos"


Isto foi o que escrevi e reescrevi na altura sem resposta. Deixo-vos com duas fotografias de 1994 do Bicão dos Conqueiros e também uma fotagrafia dos impressionantes menires do conjunto megalítico "Os três irmãos" da Serra da Freita.
Tenho o hábito de não falar daquilo que ignoro
Sófocles


Tuesday, December 18, 2007



DA MINHA JANELA VIII




No mês mais produtivo da minha blogação, vai mais um olhar para dentro Da minha janela.




Consulta trocada


"O macaco é um animal demasiado simpático para que o homem descenda dele"

Nietzsche


No meio de mais uma tarde de consultas, numa quinta-feira cinzenta e fria de Março, felizmente quase fim de semana, surge-me um casal jovem com uma criança pequena de cerca de dois anos de idade, trazendo a mãe na mão um envelope com o que pareciam ser umas análises e mais alguns papéis que mais tarde me seriam mostrados, assim pensava eu.
Antes mesmo de se sentarem, a mãe da Filipa – assim se chamava a menina – estendeu-me o que trazia na mão e começou, antes mesmo que eu pudesse ver o que ela tinha pousado na secretária à minha frente:
- Doutor, nós viemos cá porque a nossa filha vai ser operada amanhã e nós queríamos saber se era mesmo preciso!
Perante esta introdução, sentei-me melhor na minha cadeira, respirei fundo e perguntei:
- Mas se a criança vai ser operada já amanhã, porque vieram cá e porquê apenas hoje?
- Foi uma amiga minha, que o doutor já viu o filho que nos disse que o doutor estava muito habituado com crianças e nos podia dar uma orientação sobre se ela precisa mesmo de ser operada ou não.
- Mas, afinal… - comecei eu, quando fui interrompido pela senhora, que continuou:
- Olhe – disse, apontando para cima da secretária – estão aqui as análises que o médico pediu e como ele ainda não as viu, gostava que o doutor me dissesse se estão bem para a menina ser operada.
- Mas… - ia eu de novo a tentar falar quando a senhora se levanta de repente e pegando na criança, a manda abrir a boca e deitar a língua de fora, dizendo:
- Está a ver doutor, a menina está com a língua assim branca desde ontem; acha que está a ficar doente? Se calhar não pode ser operada!
Antes que eu pudesse abrir a boca, não para mostrar a língua, mas para tentar falar, no meio daquele turbilhão de informação desencontrada, foi a vez do pai, até essa altura um pouco à margem do que se estava a passar no consultório, que atirou:
- Olhe doutor, e apareceram-lhe umas pintinhas vermelhas nas pernas; acha que é sarampo?
- Não – interrompeu a mãe – isso foi de certeza do chocolate que a tua mãe lhe deu ontem sem eu saber…
- Bem – disse eu, levantando-me e não deixando começar o que poderia vir a ser uma discussão conjugal em pleno consultório médico – vamos mas é ver a Filipa primeiro e depois continuamos a conversa, está bem?
Depois de uma cuidadosa observação, não consegui descobrir qualquer alteração nos ouvidos, nariz ou garganta da criança, pelo que disse aos pais:
- Da minha parte parece-me que está tudo bem!
- Mas – disse a mãe muito depressa, mostrando a barriga da menina – o doutor não lhe viu a barriga e, está a ver este alto aqui no umbigo, é a isto que ela vai ser operada!
Incrédulo, tentei explicar à mãe que aquele problema era resolvido por colegas de outra especialidade, mas foi em vão pois a senhora levantou-se, arrastando consigo o marido, a filha e os papéis que me havia colocado em cima da secretária e que eu não consegui chegar a ver, e boa ajuda me teriam dado…
Entre dentes ainda a ouvi dizer à saída do consultório:
- E ainda dizem que os médicos estudam muito, para não conseguirem ver uma coisa que até eu sem óculos consigo ver, parece impossível; e eu que tinha tão boas referências deste doutor!...

Tuesday, December 11, 2007


DA MINHA JANELA VII


Embalado com os "textos" que vou vendo Da minha janela, vou agora até Lisboa, há muitos anos atrás, num dia de Sporting-Benfica.


Benfica-Sporting

Esta história passou-se há alguns anos, num fim de tarde de domingo, talvez em Setembro ou Outubro, já não me lembro bem.
Estava eu no fim de um dia de urgência no hospital, ainda calmo, talvez porque o dia esteve bom e as pessoas foram para a praia, talvez porque fosse dia de Benfica-Sporting…
Chega então um senhor (e disto já me lembro bem), dos seus 40 anos, muito aflito, com sensação de falta de ar, aperto no peito, e que apontava com gestos frenéticos para qualquer sítio no fundo da sua garganta que não o deixava engolir nem mesmo respirar. Quanto ao engolir era bem verdade mas em relação ao respirar era o natural exagero de quem estava extremamente ansioso, até porque além do mais o seu clube tinha acabado de perder e logo com o grande rival, ainda por cima logo no início do campeonato. Era demais para um dia de domingo que estava a ser tudo, menos um dia de descanso entre duas semanas de trabalho no reinício do ano, após as férias de verão.
Perante este quadro, e a dificuldade até em falar do pobre homem, um amigo que o acompanhava começou a contar o que havia então sucedido:
- Eram cerca de quatro da tarde e preparávamo-nos para ir para o estádio ver o jogo que começava às sete e um quarto. Como sempre, fomos um pouco mais cedo para morder o ambiente e beber umas cervejas antes de começar a bola. Ora, este meu amigo teve a brilhante ideia de ir comer uma sandes de courato e lá nos dirigimos para a roulotte que ele entendeu mais apropriada para o apronto. Eu fiquei-me por uma bifana e uma sagres e aqui o rapaz – disse, dando-lhe uma palmada nas costas que o fez estremecer – emborcou duas cervejas e uma sandes de courato quase inteira de uma só dentada. A partir daí foi um ai Jesus, ai que não consigo engolir, ai que me falta o ar, ai que me dói o peito e um sem número de outros ais que não importa estar aqui a repetir (…), até chegarmos aqui para o doutor ver se lhe tira o mal do peito.
- Vamos então fazer uma radiografia para ver o que temos aí dentro, que eu próprio estou curioso.
A radiografia mostrava realmente, entre a garganta e o estômago uma série de ténues imagens que podiam corresponder a pedaços de courato da maldita sandes em dia de Benfica-Sporting.
O problema foi resolvido facilmente com um exame simples, com anestesia geral e, no dia seguinte, após beber um chazinho frio sem dificuldade, o senhor Antunes – lembro-me agora do nome dele – teve alta, jurando a pés juntos que nunca mais comia sandes de courato.
Passaram os anos e no dia de um grande jogo de futebol a que eu ia assistir, parei como tanta gente, numa daquelas roulottes para confortar o estômago antes do jogo, e ouço ao meu lado uma voz que me fez voltar alguns anos atrás:
- Por favor, era uma sandes de courato e uma sagres

Sunday, December 09, 2007




DA MINHA JANELA VI







Depois de uma boa noite de sono vou ver mais uma vista Da minha janela, desta vez sobre Belgrado em Abril de 2006.







Corvus corone cornix

Há uns tempos estive em Belgrado, em trabalho, durante alguns dias. Era a primeira vez que me deslocava a um país da ex-Jugoslávia, e logo à Sérvia, que continua a guardar as marcas de anos e anos de guerras e uma grande instabilidade social e de fronteiras (quando lá estive, ainda se chamava Sérvia e Montenegro!).
Numa visita guiada por Belgrado vimos vários edifícios oficiais da antiga Jugoslávia que guardam à vista de todos, sérvios e não sérvios, os resultados dos bombardeamentos da NATO em 1999, em que a capital Sérvia foi bombardeada todas as noites durante 79 dias. Curiosamente ou talvez não, as pessoas que viveram esses momentos dizem-nos que o seu dia-a-dia se manteve inalterado pois os bombardeamentos eram só de noite e os alvos eram estrategicamente escolhidos e raramente falhavam. É difícil de compreender para nós, assim como é difícil ver uma cidade e um país do centro da Europa (mas fora da nossa Europa) a viver uma vida tão diferente da nossa: as ruas e os edifícios sujos e degradados, um parque automóvel como eu nunca vi nem em Portugal, nem há trinta anos atrás, contudo um povo confiante no seu futuro, apesar da “nossa” Europa estar ainda a muitos anos de distância e apesar disso tão perto… Mas, dentro daquele atraso socio-económico havia um Danúbio magnífico que ainda este ano tinha galgado as suas margens, com as suas marcas ainda presentes nas casas submersas nas margens alargadas pelos caprichos da natureza. No centro da outrora capital da Jugoslávia destacava-se pela sua imponência e pela extraordinária recuperação levada a cabo nos últimos anos, a magnífica catedral ortodoxa de St. Sava que pela sua alvura e grandiosidade se destacava de todos os monumentos de Belgrado. Ao passarmos e admirarmos a catedral, perguntei a um dos monitores do curso, que nos acompanhava, qual era a religião predominante na Sérvia ao que ele respondeu que era a cristã ortodoxa, mas que só agora estava a recuperar de anos de “clandestinidade”. Quando lhe perguntei a razão de ser dessa sua afirmação ele respondeu-me assim:
- No tempo do comunismo a ida à igreja não era bem vista pelas autoridades e por isso muita gente, com medo de represálias, não frequentava os locais de culto. Na minha família, a minha mãe é religiosa e cristã, mas não podia frequentar a igreja, pois o meu pai trabalhava para os militares e era vedado à sua família a prática religiosa sob pena de perder o seu emprego; assim muitas pessoas, durante muitos anos não puderam expressar a sua fé livremente e eu durante muitos anos nunca entrei numa igreja. Agora as coisas são diferentes e as pessoas podem exprimir livremente a sua fé e por isso muitos dos templos abandonados e esquecidos durante o comunismo voltam a ter a seu esplendor de outrora e a encherem-se de crentes.
Outro grande monumento de Belgrado é a imponente fortaleza de Belgrado, situada num local muito amplo e elevado na confluência dos rios Danúbio e Sava, com as marcas presentes de uma ocupação humana desde o Neolítico. Esta fortaleza alberga um grande parque, como muitos que há em Belgrado com árvores frondosas, jardins imensos e um habitante muito peculiar, pelo menos para nós portugueses: o Corvus corone cornix, ou gralha cinzenta, que em grande abundância povoa as árvores, os jardins, os telhados e a vida desta cidade. É uma ave impressionante pela sua envergadura, pela sua beleza negra e cinzenta e pela forma como convive de perto com os seres humanos.
A primeira imagem que eu tive da gralha cinzenta foi ao chegar ao meu quarto do hotel e olhando para a janela, ver ali pousada uma enorme ave de cerca de meio metro de envergadura e com umas cores magníficas que eu nunca havia visto antes, e que me acompanhou durante os dias em que estive em Belgrado.
Quando me preparava para deixar o hotel, rumo ao aeroporto e como que para se despedir, vem pousar na janela do meu quarto a minha amiga gralha cinzenta; ou seria outra? Não me interessa verdadeiramente quem era, mas a imagem que me ficou de Belgrado foi a de Corvus corone cornix.
"É quando a arte se veste com o tecido mais usado, que melhor se a reconhece como arte."
Nietzsche

Saturday, December 08, 2007


DA MINHA JANELA V


Neste profícuo mês de Dezembro, depois de uma deabulação pelo vocabulário, volto a olhar Da minha janela, desta vez sobre Colónia em Setembro de 2006.


Eichhörnchen

No ano passado estive em Colónia, na Alemanha e confesso que fiquei agradavelmente surpreendido com o que vi. Foi a minha primeira viagem à Alemanha e a ideia que eu tinha do país e dos seus habitantes era completamente diferente daquilo que vim a verificar com os meus próprios olhos. Às vezes fazemos uma ideia de determinada coisa ou até de uma determinada pessoa – para sermos mais abrangentes – e depois a realidade vem contra aquilo que nós tínhamos por adquirido.
Em relação à Alemanha e aos alemães, confesso que não tinha uma grande simpatia idealizada pelo país ou pelo seu povo mas, em apenas quatro dias, pude modificar por completo esta ideia negativa, por um lote muito variado de razões.
Em primeiro lugar, a organização. A organização de uma cidade com cerca de um milhão de habitantes é uma coisa extraordinária, pelo menos para quem vem de um país como Portugal; tudo parece funcionar sobre rodas, sem atropelos, sem constrangimentos de trânsito e, curiosamente com um metro de superfície eficientíssimo que percorre quase toda a cidade em várias linhas, não se notando qualquer problema com o tráfego rodoviário ou com as bicicletas que também têm, em toda a cidade, lado a lado com os automóveis, as suas vias de tráfego, que diga-se de passagem é bastante intenso.
Em segundo lugar, a segurança. De dia ou de noite, mesmo não se vendo um polícia, sentimo-nos seguros e isso é uma coisa que nos deixa tranquilos e nos faz desfrutar ainda melhor da nossa estadia.
Depois a simpatia das gentes. Há quem diga, talvez as más-línguas, que os alemães fizeram um grande esforço para bem receber durante o mundial de futebol, o que também terá contribuído para o sucesso do evento. Mas não é concerteza só isso, pois onde quer que fossemos, víamos a amabilidade das pessoas e mesmos com aqueles com quem que era difícil entendermo-nos devido à barreira da língua a conversa ia fluindo num ambiente sempre acolhedor para o forasteiro.
E depois a cidade, cujas expectativas à partida não eram muitas para além da sua famosa catedral e do conhecido rio Reno. Pois mesmo a cidade me surpreendeu: a catedral, com os seus seis milhões de visitantes por ano, é fantástica, mas em termos monumentais Colónia não fica por aqui, nomeadamente em relação à arquitectura religiosa com as suas doze igrejas românicas cuja monumentalidade é apenas ofuscada pela grandeza da catedral. Há também museus a não perder, onde curiosamente se podem tirar fotografias (!), dos quais vou apenas citar um, não por ser o mais importante concerteza, mas pela sua peculiaridade que é o museu Farina, berço da universalizada água de colónia que ainda é hoje produzida e convenhamos tem um cheiro bastante agradável.
E há também o parque da cidade, mistura de lagos, jardins e pequenos bosques, onde se respira tranquilidade, junto á mais antiga universidade alemã, que fica mesmo ali ao lado, compartilhando com a cidade e os seus habitantes e visitantes aquele pedaço de natureza.
Vamos finalmente ao estranho e ininteligível título desta minha crónica – eichhörnchen – ou seja, esquilo em alemão que cientificamente é conhecido como sciurus vulgaris. E porquê? Porque durante a minha agradável estadia naquela aprazível cidade alemã, estando eu a tomar o pequeno almoço, olho pela minha janela e vejo no parque fronteiro ao hotel, junto a uma árvore, um esquilo, que convenhamos não é um animal que estejamos habituados a ver nas nossas cidades, a deambular por ali. Foi uma visão magnífica que me vai ajudar a lembrar de Colónia, com carinho…

OSTAGADURA: s. f.


Voltando, após algum tempo de descanso, ao vocabulário português e, baseando-me como sempre no Grande Dicionário da Língua Portuguesa de 1981, vou-me agora debruçar sobre uma palavra que me ouvi ou li já não sei onde e que procurei aprofundar o seu significado - Ostagadura. Ora, no referido dicionário vem: lugar da verga onde se fixam as ostagas. Não percebi bem e por isso fui ver ostagas. Ostaga, s. f. (do cast. ostaga): o cabo que serve para içarou arriar as vergas ao comprimento do seu mastaréu; este cabo, vai gornir num moitão que para esse fim existe pela parte de cima da pega do mastaréu, vindo depois, solteiro, dar volta na mesa de malaguetas do respectivo mastro; há dois cabos destes em cada verga, um por cada borda do mastro. Como ainda não estava esclarecido, fui ver o que era gornir. Gornir, v. tr. passar um cabo pelos gornes do poleame; enrolar o cabo na saia do cabrestante. Tentei então ir a gorne. Gorne, s. m. (do ital. gorna): abertura com roda feita em qualquer parte para passar um cabo de laborar. Decididamente não estava a ver a coisa e tive de me socorrer de uma imagem para não me deixar levar pela imaginação.

Tuesday, December 04, 2007


Da minha janela vou agora até Valência, que vale a pena visitar


DA MINHA JANELA

Afinal onde está o rio?

Da minha janela, vejo agora, do outro lado da rua um reclamo luminoso que diz Torrié, o café. Não sei porquê isto faz-me lembrar Espanha e, a última vez que passei a fronteira virtual entre os dois países ibéricos foi para participar, como convidado em Valência, no I Congresso Ibérico de BAHA (um tipo particular de prótese auditiva).
À margem das sessões de trabalho fomos levados numa pequena visita guiada à cidade, que por sinal é bem grande e uma coisa que me deixou curioso foi atravessarmos várias vezes um rio, de uma margem para a outra, através de diversas pontes, mas um rio que não tinha água. Em vez de água, havia jardins, campos de jogos, pistas para desportos radicais, ciclovias, museus, auditórios ao ar livre, passeios e uma infinidade de outras coisas, algumas até com água (ou não estivéssemos nós num rio), o que me levou a perguntar: afinal onde está o rio?
- Ah, o rio! – foi-me respondido com espanto - não sabe? Como tinha pouca água, por um lado, e por outro como causava regularmente grandes inundações (o que parece contraditório, mas era a realidade) há muitos anos os valencianos desviaram toda a sua água para um novo canal fora do perímetro urbano abrindo assim um enorme espaço que atravessa toda a cidade de Valência e que permite a realização de actividades desportivas, lúdicas, culturais ou simplesmente ambientais.
E posso dizer que a ideia é no mínimo original, mas é um pouco estranho, pelo menos para quem não está habituado, passar uma ponte sobre um rio (ainda nomeado em muitas delas) e em vez de água, barcos ou talvez mesmo ilhas, ver árvores, ruas, balizas, casas e outras coisas de forma difícil de nomear e sobre as quais me vou debruçar um pouco, já a seguir.
É que seguindo o curso do que já em tempos foi o rio Túria, quase ao chegar à foz, o seu leito alarga-se e surge à vista de todos, como se de gigantes barcos se tratassem, uma série de enormes edifícios de cor branca, com formas de aspecto arredondado, elaborado, suavizado ao olhar e, em alguns casos manifestamente fantásticas, em todas as acepções desta palavra. Trata-se da futurista Ciudad de las Artes y las Ciências, a mais arrojada intervenção urbanística da cidade feita pela mão de mestre do arquitecto Santiago Calatrava (que também desenhou a Gare do Oriente em Lisboa), filho da terra (nasceu e viveu em Benimamet, uma pequena povoação próximo de Valência), onde se erguem edifícios de aspecto futurista, parecendo retirados de um filme de ficção científica.

Vale a pena visitar e ver a calma e tranquilidade que nos transmitem aquelas verdadeiras obras de arte que encerram dentro de si por exemplo, o Museu das Ciências Príncipe Felipe, o Palácio das Artes ou o Parque Oceanográfico – uma autêntica cidade submarina com 80.000 m² - e cujo conjunto se funde numa imagem de grande beleza visual. E para quem não tiver a oportunidade de visitar Valência ao vivo, as novas tecnologias permitem fantásticas viagens virtuais que aconselho vivamente a experimentarem pois certamente não se irão arrepender.
E alguns, menos avisados, irão perguntar como eu:
- Afinal onde está o rio?

"A ciência desenha a onda; a poesia enche-a de água"

Teixeira de Pascoaes

Monday, December 03, 2007




Depois de ter ontem iniciado a publicação do meu bloco de crónicas Da minha janela, junto hoje mais uma história portuguesa.




DA MINHA JANELA III

Delicadezas de boca

Neste período do final de um ano e início do seguinte é costume as pessoas juntarem-se e festejarem das mais variadas formas.
O ano passado sucedeu-me uma coisa curiosa que foi o saborear a requintada e inspiradora cuisine de degustação, moda que se tem apossado de uma cada vez maior quantidade de restaurantes portugueses. Nestes programas de degustação, encontramos normalmente pratos excepcionais e esquisitos (como diriam os nossos amigos espanhóis), confeccionados e elaborados por um Chef famoso e cuja escolha dos ingredientes visa transformar a dita refeição numa experiência gastronómica realmente inesquecível.
Mas o que quer dizer afinal degustação? O Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa de José Pedro Machado de 1987 diz que vem do francês, dégustation, relacionado com o verbo déguster e este do latim degustāre e que significa: provar, apreciar, saborear. Já o Grande Dicionário da Língua Portuguesa também com coordenação de José Pedro Machado de 1981, fala assim de degustar: apreciar com atenção ou prazer especial o gosto de, para lhe avaliar as qualidades; provar; saborear. Falam os entendidos, que se trata de cozinha francesa com um toque português, seja lá o que isso for.
Ora eu compreendo que se faça uma degustação de vinhos ou até de vinhos e queijos ou mesmo de azeite e pão, agora um menu completo de degustação, especialmente quando isto nos acontece dois dias seguidos, em terras de Viriato desde a Serra da Gralheira até à própria Serra da Estrela, terras da vitela, do cabrito, dos rojões, do leite-creme e dos pastéis de Vouzela, acho demais!
Mas foi isso mesmo que me aconteceu, o que significa que em apenas duas refeições (de degustação) estive sentado, seis horas á mesa. Isto é bom, por exemplo, para as pessoas conversarem, mas para isso acontecer não é preciso estarmos tanto tempo à espera de tantos pratos que, de tão grandes, quase não se lhes vê o conteúdo. Por outro lado tem também alguns inconvenientes e desde logo, se estivermos com crianças as coisas tornam-se muito complicadas para elas, apesar da grande vantagem que têm em relação aos adultos no que diz respeito à refeição pois os seus menus não são de degustação, são de comida (que inveja que eu tive daquele prato das crianças com um fantástico bife de lombo grelhado com arroz branco enquanto eu me “banqueteava” com um faisão com fois-gras, gratinado de batata, pêra e redução de Porto)!
Uma coisa engraçada que podem ter estes menus de degustação é o chamado Amis-bouche ou Amuse bouche e eu tive oportunidade de experimentar nesta categoria, um creme de ervilhas com tártaro de bacalhau; mas o que são estas antes-da-entrada que eu traduzirei livremente por delicadezas de boca? Provavelmente são para nos deixar com água-na-boca e não é que deixam mesmo; neste caso particular, o creme de ervilhas ocupava apenas parte daquilo que poderia ser uma chávena de café e o tártaro de bacalhau tinha cerca de 0,5 centímetros quadrados… Foi como se nos servissem uma tapa no meio de uma travessa!
Mas há um pequeno e direi eu, não negligenciável inconveniente nestas tapas servidas em travessas; é que na degustação é suposto envolvermos os nossos sentidos da visão, do gosto e especialmente do olfacto e é aqui que a porca torce o rabo porque a quantidade de comida que nos é apresentada, apesar do seu aspecto visual e do gosto requintado, não nos permite estimular convenientemente o olfacto ‚ o sentido principal da degustação. Isto acontece porque grande parte do que gostamos, na realidade, simplesmente o cheiramos e aqui não temos hipótese de cheirar grande coisa. O olfacto é um sentido de alerta e, também, de imenso prazer. Trata-se de um sentido muito fino: a sensibilidade olfactiva é dez mil vezes superior à do gosto, mas como no ser humano este sentido perdeu ao longo da evolução da espécie algumas qualidades quando comparado com outros animais é preciso uma maior quantidade de estímulo para se obter o mesmo prazer, no que à comida diz respeito.
Não acabemos com o prazer da nossa cozinha portuguesa!
Por isso, não nos deixemos afrancesar e travemos esta terceira invasão francesa em forma de culinária minimalista.
Vivam a vitela, o cabrito, os rojões, o leite-creme e os pastéis de Vouzela!

Sunday, December 02, 2007


DA MINHA JANELA II

O traço de Siza, a mão de Deus!
Parte II: A casa de Deus é a casa dos homens!

No Domingo fui ao Marco! (continuação)
Depois de chegar e encontrar, afinal sem grandes dificuldades, a Igreja de Santa Maria, juntou-se o grupo para o repasto que haveria de preparar a visita tão aguardada.
Lá nos dirigimos nós para O Plátano, onde nos esperava um bacalhau e umas postas de vitela, regadas com o verde tinto da região ou com um Douro, mais autêntico, para quem o desejasse. Durante o almoço foram-se lançando algumas interrogações sobre aquela Igreja tão peculiar, que estávamos prestes a conhecer, tendo como pano de fundo a mensagem e as ideias de Teixeira de Pascoaes, um homem do Marão que, entre outros pensamentos disse “a morte é a pessoa feminina de Deus” ou “existir não é pensar: é ser lembrado”… E foi com os pensamentos de Pascoaes que, terminado o lauto repasto, nos dirigimos para a Igreja de Santa Maria., sob o sol escaldante de um domingo de Abril.
Ao chegar junto à Igreja, juntámo-nos à sua sombra, no jardim que está separado por duas colunas, do átrio que dá acesso à casa mortuária, que fica na continuação do mesmo jardim e do corpo da Igreja, desde logo em harmonia. Como a Igreja só abria às três horas e eram só duas e meia, por ali começámos a nossa visita. O jardim está dividido por um caminho empedrado, em duas partes: uma arranjada, bonita e organizada e outra parecendo um matagal; logo aqui vemos a divisão entre a ordem e o caos, levando esse caminho ao claustro, pátio interior que se atinge ultrapassando simbolicamente duas colunas rectangulares e depois duas colunas redondas. Ali chegados, a cota muito mais baixa do que o edifício da Igreja cria a sensação de estarmos num subterrâneo, num lugar de mistério, inspirando à meditação e recolhimento, que é acentuado pela frescura e pelo murmúrio da água que cai, mesmo em frente ao óculo do espaço do velório, para um pequeno lago. Outro elemento nos chama também a atenção, apontando ao alto, subindo com o edifício e a escada que conduz à entrada superior e parecendo puxar a terra para o céu ao mesmo tempo que atrai o céu para a terra: o cipreste!
Estávamos nós a apreciar as doutas explicações do nosso guia quando, um dos elementos do nosso grupo, que se havia afastado um pouco, regressa com um grupo de jovens de aspecto estrangeiro e que se começaram a juntar a nós:
- Olha, vais ter que dizer também qualquer coisa em inglês, pois estes rapazes são estudantes de arquitectura de Budapeste, na Hungria e acabaram de fazer 3.000 quilómetros para te ouvir falar, ou melhor para ver a Igreja falar! Nessa altura um casal de espanhóis também já se tinha juntado ao grupo e ia ouvindo Siza falar pela boca do Pedro (o nosso douto e letrado guia).
Entretanto já tinha passado meia hora e fomo-nos então dirigindo para a entrada da Igreja, subindo as escadas exteriores, acompanhados pelo cipreste e depois contornando a sua fachada noroeste, onde se destacam os enormes janelões superiores, cinco, dos quais apenas três (como vimos mais tarde) têm abertura para o interior.
Eis-nos chegados à fachada principal da Igreja, onde se destaca a enorme porta, alta, nobre, com um enorme peso na fachada do edifício. Transposta esta, entramos no lugar que Deus habita e deparamo-nos com a tranquilidade, a ordem e a luz, luz à altura do olhar e à altura da alma, como tão bem o soube ver e escrever o Padre Nuno Higino sobre a “sua” Igreja. É uma Igreja despojada de adereços supérfluos, onde cada coisa está no seu sítio duma forma natural, no seguimento das recomendações do Concílio Vaticano II, com o traço de Siza (seguramente) pela mão de Deus.
Na parede à direita da nave destaca-se uma longa fresta horizontal, à altura do homem, virada para a cidade e para as montanhas ao longe, fazendo a ligação com o mundo material. À sua frente encontra-se a parede curva, onde se abrem em cima os três janelões, que entrevíamos de fora, com uma escala menos humana e remetendo para o alto, para o transcendente.
Chegados ao presbitério, este encontra-se três degraus acima da nave, numa relação muito estreita e comunicante.
Haveria muito mais para contar e lembrar da Igreja de Santa Maria, mas vou apenas falar de dois elementos fundamentais no conjunto: a imagem de Nossa Senhora e a cruz. A Nossa Senhora está colocada do lado direito no primeiro degrau entre a nave e o presbitério e virada para a cruz que se encontra ao fundo, do lado direito do altar. A colocação de Nossa Senhora no primeiro degrau não foi ao acaso (nada ali parece ter sido deixado ao acaso, pois como disse Siza: “com o sagrado não se brinca”), pois assim encontra-se ao lado dos homens, mas elevada a uma particular dignidade.
Finalmente a cruz, que não encontrámos lá fora, tem a forma de um tau grego, colocada lateralmente, voltada para o altar e para a Mãe, mais ao longe, tornando o altar o centro do espaço. A cruz de quatro metros de altura, dignamente revestida a ouro, não apresenta o Cristo de uma forma óbvia, mas quando olhamos para ela parece-nos vê-Lo lá…
O tempo vai passando sem que demos por isso e a Igreja começa a encher-se de gente de todo o mundo para ver a obra de Álvaro Siza com certeza, mas saímos daqui, com a perfeita noção de que em cada traço de Siza estava a mão de Deus!

" Existir não é pensar: é ser lembrado."
Teixeira de Pascoaes

DA MINHA JANELA

O traço de Siza, a mão de Deus!
Parte I: O mamarracho!

No Domingo fui ao Marco!
O Marco de Canavezes é uma pequena e simpática cidade espreguiçada à volta do rio Tâmega, abraçando com o olhar a serra da Marão… ao longe! Pois, este domingo fui ao Marco e a pergunta lógica que inevitavelmente se segue, será: o que fui eu fazer ao Marco? Eu próprio, há umas semanas atrás, se me dissessem que ia ao Marco não iria acreditar, pois não me lembrava de nada que me pudesse fazer ir a uma terra que até então não me dizia nada. Mas o certo é que fui desafiado para integrar um pequeno grupo que estava a preparar uma visita guiada à Igreja de Santa Maria, para aquele domingo. Não podia recusar aquele convite pelos argumentos que se me apresentavam: primeiro é uma das obras emblemáticas do renomado (mais no estrangeiro que na própria pátria) arquitecto Álvaro Siza Vieira, galardoado em 1992 com o prémio Pritzker (o Nobel da arquitectura) e com a qual (igreja) ganhou um prémio internacional onde também concorria, pasme-se, o museu Guggenheim de Bilbau! A segunda razão era a curiosidade de ver como um assumido ateu tinha desenhado uma igreja, hoje, mundialmente famosa; em terceiro lugar porque eu próprio não era um adepto fervoroso de Álvaro Siza e a ideia que tinha daquela igreja, era a de um verdadeiro “mamarracho”; e por último porque, como em qualquer bom roteiro cultural, estava incluída a vertente gastronómica, com um almoço no restaurante típico O Plátano, do Marco.
Juntados todos os ingredientes, lá me fui preparando mentalmente para a visita; alguns dias antes, ao passar no meu local de trabalho por um senhor que eu sabia que era do Marco, disse-lhe:
- Ó Miguel, sabe onde é que eu vou no domingo? Vou à sua terra, disse – sem esperar pela resposta, que surgiu em forma de pergunta.
- Mas que raio é que o doutor vai fazer ao Marco? – Retorquiu admirado.
- Veja lá, vou visitar a igreja do Siza…
Sem me deixar continuar, atirou:
- Ó doutor, aquilo é um mamarracho que para ali está, não tem nada para ver.
- Deixe estar Miguel, a visita também inclui um almoço e parece que a ementa não é nada má, por isso, pelo menos salva-se a comida.
Sem me responder, continuou, ainda a pensar que raio iria fazer ao Marco, ainda por cima quando se previa um dia de grande calor para domingo.
E assim foi, aquele domingo nasceu quente e o calor aumentava conforme nos íamos afastando da costa cálida e nos embrenhávamos no interior do distrito do Porto. Chegando ao Marco, surgiu a interrogação:
- Como é que damos com a igreja?
- O melhor é perguntar a alguém!
- Não vale a pena, há-de haver alguma indicação…
E realmente, ao circundarmos a primeira rotunda após a bonita travessia do rio Tâmega, lá vimos uma tabuleta estilizada onde se lia Igreja de Santa Maria.
- Estás a ver, é fácil!
- Vamos ver…
E continuámos a andar até chegar a nova rotunda numa zona mais central da cidade, mas aí já não havia tabuleta. Vimos então uma série de pessoas que vinham aparentemente todas do mesmo sítio, vestidas de modo formal, apesar do dia quente, quase de Verão e pensámos ao mesmo tempo: a esta hora, num domingo, toda esta gente…devem vir da missa, logo, a igreja deve ser por aqui! Foi então que ouvimos chamar:
- Venham, é aqui em cima!
Quem nos chamava era alguém do nosso grupo, que nos tinha reconhecido e apontava, triunfal para um edifício todo branco, quase liso e quase sem janelas que se encontrava atrás dele e para o qual já tínhamos olhado, sem ver que o que estava ali era… a Igreja de Santa Maria!
E lá nos fomos dirigindo para junto daquele edifício aparentemente frio, austero, grave, rude, sem ornatos e que nada se parecia com a ideia de igreja que todos nós tínhamos interiorizada.
- Vamos almoçar, já estamos todos; a visita à igreja começa às duas e meia, agora é tempo de alimentar o estômago, para depois melhor iluminar a alma! – Ouvimos alguém dizer, e que nos retirou das ideias sombrias que nos percorriam ao olhar para aquela que diziam ser umas das grandes obras de Álvaro Siza.
E lá nos dirigimos para o restaurante, sem saber o que nos esperava daí a pouco mais de uma hora, quando o traço de Siza se mostrou aos nossos olhos iluminado pela mão de Deus!
Mas essa revelação fica para um próximo olhar Da minha Janela…