Sunday, December 02, 2007


DA MINHA JANELA

O traço de Siza, a mão de Deus!
Parte I: O mamarracho!

No Domingo fui ao Marco!
O Marco de Canavezes é uma pequena e simpática cidade espreguiçada à volta do rio Tâmega, abraçando com o olhar a serra da Marão… ao longe! Pois, este domingo fui ao Marco e a pergunta lógica que inevitavelmente se segue, será: o que fui eu fazer ao Marco? Eu próprio, há umas semanas atrás, se me dissessem que ia ao Marco não iria acreditar, pois não me lembrava de nada que me pudesse fazer ir a uma terra que até então não me dizia nada. Mas o certo é que fui desafiado para integrar um pequeno grupo que estava a preparar uma visita guiada à Igreja de Santa Maria, para aquele domingo. Não podia recusar aquele convite pelos argumentos que se me apresentavam: primeiro é uma das obras emblemáticas do renomado (mais no estrangeiro que na própria pátria) arquitecto Álvaro Siza Vieira, galardoado em 1992 com o prémio Pritzker (o Nobel da arquitectura) e com a qual (igreja) ganhou um prémio internacional onde também concorria, pasme-se, o museu Guggenheim de Bilbau! A segunda razão era a curiosidade de ver como um assumido ateu tinha desenhado uma igreja, hoje, mundialmente famosa; em terceiro lugar porque eu próprio não era um adepto fervoroso de Álvaro Siza e a ideia que tinha daquela igreja, era a de um verdadeiro “mamarracho”; e por último porque, como em qualquer bom roteiro cultural, estava incluída a vertente gastronómica, com um almoço no restaurante típico O Plátano, do Marco.
Juntados todos os ingredientes, lá me fui preparando mentalmente para a visita; alguns dias antes, ao passar no meu local de trabalho por um senhor que eu sabia que era do Marco, disse-lhe:
- Ó Miguel, sabe onde é que eu vou no domingo? Vou à sua terra, disse – sem esperar pela resposta, que surgiu em forma de pergunta.
- Mas que raio é que o doutor vai fazer ao Marco? – Retorquiu admirado.
- Veja lá, vou visitar a igreja do Siza…
Sem me deixar continuar, atirou:
- Ó doutor, aquilo é um mamarracho que para ali está, não tem nada para ver.
- Deixe estar Miguel, a visita também inclui um almoço e parece que a ementa não é nada má, por isso, pelo menos salva-se a comida.
Sem me responder, continuou, ainda a pensar que raio iria fazer ao Marco, ainda por cima quando se previa um dia de grande calor para domingo.
E assim foi, aquele domingo nasceu quente e o calor aumentava conforme nos íamos afastando da costa cálida e nos embrenhávamos no interior do distrito do Porto. Chegando ao Marco, surgiu a interrogação:
- Como é que damos com a igreja?
- O melhor é perguntar a alguém!
- Não vale a pena, há-de haver alguma indicação…
E realmente, ao circundarmos a primeira rotunda após a bonita travessia do rio Tâmega, lá vimos uma tabuleta estilizada onde se lia Igreja de Santa Maria.
- Estás a ver, é fácil!
- Vamos ver…
E continuámos a andar até chegar a nova rotunda numa zona mais central da cidade, mas aí já não havia tabuleta. Vimos então uma série de pessoas que vinham aparentemente todas do mesmo sítio, vestidas de modo formal, apesar do dia quente, quase de Verão e pensámos ao mesmo tempo: a esta hora, num domingo, toda esta gente…devem vir da missa, logo, a igreja deve ser por aqui! Foi então que ouvimos chamar:
- Venham, é aqui em cima!
Quem nos chamava era alguém do nosso grupo, que nos tinha reconhecido e apontava, triunfal para um edifício todo branco, quase liso e quase sem janelas que se encontrava atrás dele e para o qual já tínhamos olhado, sem ver que o que estava ali era… a Igreja de Santa Maria!
E lá nos fomos dirigindo para junto daquele edifício aparentemente frio, austero, grave, rude, sem ornatos e que nada se parecia com a ideia de igreja que todos nós tínhamos interiorizada.
- Vamos almoçar, já estamos todos; a visita à igreja começa às duas e meia, agora é tempo de alimentar o estômago, para depois melhor iluminar a alma! – Ouvimos alguém dizer, e que nos retirou das ideias sombrias que nos percorriam ao olhar para aquela que diziam ser umas das grandes obras de Álvaro Siza.
E lá nos dirigimos para o restaurante, sem saber o que nos esperava daí a pouco mais de uma hora, quando o traço de Siza se mostrou aos nossos olhos iluminado pela mão de Deus!
Mas essa revelação fica para um próximo olhar Da minha Janela…

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