Saturday, June 07, 2008


SIMÃO RODRIGUES DE AZEVEDO

Recupero este texto de 1996, que redigi em memória de um IlustreVouzelense, talvez um pouco esquecido na actualidade e que introduziu em Portugal a Companhia de Jesus, que ainda hoje tem um papel importante na nossa sociedade fundamentalmente com o seu papel missionário e acima de tudo educacional, apesar das perseguições de que foram vítimas ao longo dos séculos desde a sua fundação em 1534.


Fundador da Companhia de Jesus e seu introdutor em Portugal, primeiro jesuíta português, introduziu a Ordem em Portugal com bases sólidas, lançando ao mesmo tempo a missão ultramarina.
Nasceu em Vouzela em 1510 e era filho de Gil Gonçalves de Azevedo Cabral e de D. Helena de Azevedo, nobre família.
Em 1527, com 17 anos de idade foi para Paris para a Universidade como bolseiro d'El-Rei, começando por se matricular no Colégio de Santa Bárbara, com seu irmão Sebastião, dedicando-se ao estudo de Humanidades ou Artes, sendo nessa altura Reitor da Universidade de Paris o português André de Gouveia. Matriculou-se na Faculdade de Artes em 1532 e licenciou-se em 1536, tendo-se dedicado então ao estudo da Filosofia e Teologia.
Em 1529, Inácio de Loyola chega ao Colégio de Santa Bárbara e começa a reunir um grupo de amigos que viria a estabelecer os alicerces da Companhia de Jesus. No mesmo quarto habitavam Inácio de Loyola, Francisco Xavier, Pedro Fabro e Simão Rodrigues, embrião da Companhia de Jesus a que se juntaram Diogo Laínez, Afonso Salméron e Nicolau Bobadilla.
Os sete deixaram Paris em 1537, dirigindo-se para Veneza, onde se lhes juntaram Cláudio de Jay, Pascácio Broet e João Codure, que vinham a perfazer o Grupo dos Dez.
A ida para Veneza, em 25/01/1537 prendia-se com a vontade de demandar a Terra Santa, pois era dali que partiam os barcos. Como se não conseguissem os seus intentos foram para Roma em 16/03/1537, onde se puseram às ordens do Papa para que os enviasse às missões que julgasse ser do maior serviço divino.
O encontro com o Papa deu-se no Castel Sant'Angelo, e este, agradado com os ideais de vida e missão do Grupo, satisfez favoravelmente os seus pedidos: a bênção de Paulo III, a licença para peregrinarem à Terra Santa e a autorização para receberem as ordens sagradas das mãos de qualquer bispo, mesmo fora dos tempos costumados, além de lhes dar 260 ducados para a viagem.
Voltam então para Veneza para empreender a viagem. Em 24 de Junho de 1537, recebeu Simão, juntamente com os seus amigos o sacerdócio, continuando a esperar a viagem, que não se realizou, pelo estado de guerra de Veneza com os Turcos.
No dia 15 de Abril de 1539, é fundada a Companhia de Jesus, em Roma.
Em 23 de Agosto de 1539 chega a Roma uma carta de D. João III, interessado e muito empenhado na presença e instalação da Companhia de Jesus em Portugal, o que levou Inácio de Loyola a referir-se-lhe como o "pai da Companhia de Jesus", pois foi de Lisboa que partiram Manuel da Nóbrega, Anchieta, João de Brito e tantos outros que haveriam de levar o Evangelho aos quatro cantos do mundo.
A 17/4/1540 chega Simão a Lisboa e logo se encontra com D. João III, Rei de Portugal, "o primeiro e maior benfeitor, não só da Província portuguesa, mas ainda de toda a Companhia". Pouco depois chega também Francisco Xavier.
Em Lisboa, os dois jesuítas, Simão e Francisco Xavier eram admirados e venerados por todos ao ponto de Simão Rodrigues escrever a Inácio de Loyola em Junho de 1540, que muitos "pensam que beijando nossas roupas beijam relíquias de Santos". O ideal da Índia mantinha-se vivo nos seus corações, lembrando-se que o fundamento que os fez sair de Roma com o mandato de Sua Santidade foi levar o nome do Senhor perante os reis e pregá-lO àqueles que O não conhecem.
A 3 de Abril de 1541 parte Xavier para a Índia na armada sob o comando do novo vice-rei D. Martim Afonso de Sousa. Simão ficou, mas sempre com projectos de missionação futura em paragens distantes.
Ao ficar em Portugal, a sua vocação missionária e de acção, levou a que o fundador da Província portuguesa desenvolvesse um trabalho fundamental e decisivo na implantação e consolidação da Companhia de Jesus no nosso país.
O primeiro colégio dos jesuítas em Portugal foi fundado por Simão Rodrigues em Lisboa, em Santo-Antão e desde o início gozou do maior prestígio.
Em Coimbra é também fundado um colégio junto à Universidade, Colégio do Nome de Jesus, com os bons ofícios do rei D. João III.
É por intermédio de Simão Rodrigues, aproveitando o acontecimento que viria a ser o casamento da infanta D. Maria com Filipe II de Espanha, que se dá a introdução da Companhia de Jesus em Espanha, com o seu amigo Pedro Fabro a que se juntaram muitos jesuítas jovens formados no colégio de Coimbra.
Em 1551 é fundado o colégio dos jesuítas em Évora, embrião da Universidade que é inaugurada em 1559.
Simão sempre alimentou o desejo de ajudar a difundir a Fé no Novo Mundo, mas como diz P. Baltazar Teles na sua "História da Companhia de Jesus nos reinos de Portugal", " conhecendo já o P. Simão que os gravíssimos negócios desta Província de Portugal não lhe davam lugar para cumular os seus grandes desejos de missão no Brasil, resolveu chamar a Coimbra o P. Nóbrega para mandá-lo ao Brasil em seu lugar".
Assim Simão ajudou a espalhar a Fé e a língua portuguesa em todo o mundo até então conhecido e encarregou-se pessoalmente da organização e implantação da Companhia em todo o país, não havendo "parte alguma do mundo, onde tanto prosperasse naqueles primeiros tempos", como escreve Inácio de Loyola em 1551.
Imcompreensões várias e invejas muitas pressionam Inácio de Loyola a libertar Simão do cargo de provincial de Portugal, e assim, no dia 1 de Janeiro de 1552, Simão Rodrigues é constituído provincial dos reinos de Aragão, de Valência e da Catalunha. Em relação à perda que a Província portuguesa sofreu, escreve Francisco de Borja em 1552: "parece que é tirar os fundamentos do edifício pra em breves dias destruir o edificado".
Em Junho de 1553 inicia um exílio de 20 anos em Roma, para onde foi desencantado pelo rumo que a Província portuguesa estava a tomar e mandado por Diogo Mirão, então provincial, a quem Inácio conferiu poder de decidir o futuro de Simão. Aí, Simão foi julgado pelos seus, com base em calúnias e invejas várias, agravadas com o actual desgoverno da Província portuguesa, tendo sido condenado a não mais voltar a Portugal. Pode-se compreender o desânimo e o desgosto sentidos pelo Mestre, mas a sua dedicação à Companhia fizeram-no acatar com "alegria" esta decisão.
Em 1554 consegue alcançar um dos seus sonhos que é visitar a Terra Santa em peregrinação. No seu longo exílio, passou Simão por Veneza, Pádua, Bassano e Génova onde foi superintendente do colégio da Companhia.
Em 1564, Diogo Laínez, então Geral da Companhia, providenciou a sua ida para Espanha, tendo passado por Córdova, Toledo e Múrcia.
Após 20 anos de ausência de Simão da Província portuguesa, esta continuava desgovernada e é assim que em 1573 o P. Everardo Mercuriano, novo Geral da Companhia, compreende o erro cometido anos antes e "ordenou" a Simão Rodrigues que regressasse a Portugal para pacificar a Província.
A Província voltou a prosperar e continuou a sua consolidação e Simão pôde ficar enfim em paz.
Em 1577 termina a sua notável obra "De origine e progressu Societatis Iesu".
A 15 de Julho de 1579, morre em Lisboa , na Casa de S. Roque, onde viveu os últimos anos da sua vida.


"A mim vos digo, me parecem uns Apóstolos"
D. JoãoIII

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