Saturday, February 23, 2008


ARQUEOLAFÕES IV

Cova do Lobisomem


Só o nome dá curiosidade de conhecer e eu conheço muito bem pois não me canso de a visitar ano após ano e cada vez mais me intriga a sua localização no tempo passado, relacionado com a sua utilização. Quem a utilizou, e em que tempos(?), é pergunta que não temos visto respondida. Aristides de Amorim Girão nas suas Antiguidades Pré-Históricas de Lafões de 1921, faz uma excelente descrição desta gruta que passo a citar: "... na margem direita do rio (Couto), cerca de 200 m. a montante da torre medieval (de Cambra) ... encontramos uma caverna unteressantíssima, do período paleolítico, conhecida pelo nome deveras sugestivo de Cova do Lobisomem, onde si vera est fama, se recolhe 0 fantasma a descançar das longas fadigas que pasa percorrendo sete freguesias numa noite... A situação da caverna em relação ao rio e o facto de ficar na parte externa duma curva deste, onde a erosão é portanto mais activa, levam a crer que ela tenha sido em parte escavada pelas águas; mas é na sua máxima parte artificial. Consta de uma galeria ou corredor cuja entrada mede 2,40 m. de altura por 2 m. de largura; vai estreitando gradualmente para o interior, conduzindo a uma vasta câmara de forma oval irregular por um estrangulamento onde a custo cabe um homem de pé, pois não tem de largura mais de 0,40 m., tendo aliás 2,20 m. de comprimento. A câmara com cerca de 5 m. de comprido por2,50 m. de largo e outro tanto de alto, pode comportar dez homens bem à vontade. O comprimento total, incluíndo a galeria e câmara, regula por 18m. Toda a caverna foi aberta em saibro muito rijo, quási tão consistente como o granito, tendo na parte superior da câmara um pequeno buraco totalmente tapado por uma cobertura de calhaus rolados ligados por um cimento arenoso e argiloso muito duro e incontestavelmente produto da indústria humana; o fundo está completamente obstruído de areia e calhaus rolados." É a melhor e mais completa descrição da Cova do Lobisomem que eu conheço, apesar dos seus 87 anos de idade. Em Vouzela: A Terra, os Homens e a Alma (2001), faz-se uma referência curiosa à Memória Estadística de Lafões (1823) do Dr. Joaquim Baptista: "... Perto do rio do Espírito Santo em Cambra, há uma escavação muito longa em terreno de aspecto aurífero, e os mais sensatos crêem ser cava subterranea, que de alguma fortaleza guiava ao rio, a fim de se fornecerem de agoa os assistentes no Castello. Quanto a mim, pelo aspecto do terreno, direcção e extensão da Cava, suponho serem galerias de mina antiga do tempo dos Fenícios, Cartagineses ou Romanos". Na Carta Arqueológica do Concelho de Vouzela (1999), tal como em Vouzela:Património Arqueológico; sítios e rotas (2005) não é feita quaquer referência a este sítio. Porquê?... Fica a pergunta e já agora uma fotografia em que se pode ver a entrada, a galeria e ao fundo a câmara.

"Existem coisas que, para as saber, não basta tê-las aprendido"

Séneca

No comments: